Por Élisson Diones, Melissa Steda, Sarah Linke
“Você se lembra da primeira vez em que acessou a internet?”. Essa pergunta, para as novas gerações, parece fazer cada vez menos sentido porque muitos já nascem imersos nesse ambiente em que a internet está presente no cotidiano: já se tornou corriqueiro usar a rede para se comunicar, postar fotos, ver o extrato do banco, conferir a previsão do tempo ou até se orientar no trânsito. Essa juventude conectada, que tem seus representantes mais antigos com 25, 26 anos, cresceu junto com a web, acompanhou de perto seu rápido desenvolvimento e agora quer fazer parte da rede, não apenas como usuários, mas também como um importante ator na formulação da agenda e na tomada de decisões sobre o futuro da internet.
Foi diante desse contexto que nasceu o Youth Observatory (localmente, Observatório da Juventude): uma organização formada por cerca de 140 integrantes, em mais de 15 países latino-americanos, com o intuito de se posicionar como uma nova voz, aumentando a participação dos jovens nos espaços de discussão da chamada governança da internet. Essa organização era necessária: dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) dão conta de que, em 2014, havia em torno de 108 milhões de jovens na América Latina e no Caribe; e segundo a pesquisa TIC Domicílios de 2015, apenas no Brasil, 93% das pessoas que têm entre 16 e 24 anos já acessaram a internet.
Assim, o Observatório da Juventude foi idealizado em outubro de 2015 e desde fevereiro deste ano conta com o apoio e o reconhecimento oficial da Internet Society (Isoc), sendo parte de seu registro de Grupos Especiais de Interesse (SIG, na sigla em inglês). Seus fundadores foram participantes do programa Youth@IGF 2015, uma ação impulsionada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) com o apoio da Isoc, a fim de abrir espaço para o engajamento da juventude, e cuja atividade final foi a presença de 73 jovens no Fórum de Governança da Internet de 2015, ocorrido em João Pessoa (PB). Na oportunidade, com a presença da maior parte dos interessados, foram feitas as primeiras reuniões e apresentada uma declaração. Em seguida, o projeto começou a sair do papel e ganhar corpo. Logo foram definidos o estatuto e regulamento próprios, os quais estabelecem a estrutura interna do Observatório: um conselho diretor e sete comissões de trabalho. Atualmente, as reuniões de discussão e tomada de decisões são feitas de maneira remota.
Este movimento de capacitação e engajamento na região da América Latina e do Caribe sobre governança da internet é um dos objetivos específicos do Observatório. A finalidade é envolver outros jovens nessa dinâmica e permitir que participem ativamente dos principais fóruns e debates locais, regionais e internacionais. Outro objetivo é a promoção de trabalhos acadêmicos dos jovens nessa área, visando consolidar o ponto de vista das novas gerações sobre a área técnica, mecanismos de decisão ou conflitos existentes entre tecnologia e direitos humanos, por exemplo.
Estas são formas para levar conhecimento e a efetivação dos princípios de uma internet livre e democrática para os jovens da América Latina, independentemente de sua origem, gênero, etnia, sexualidade, crença ou qualquer outra característica pessoal. Trabalha-se pela inclusão de comunidades jovens historicamente excluídas – tais como a juventude periférica dos grandes centros urbanos, a juventude negra, a juventude de populações rurais, a juventude indígena e a juventude LGBT –, a fim de empoderá-las e dar-lhes visibilidade.
A internet, tal qual a nossa sociedade, é um ambiente onde existe heterogeneidade. Por conta disso, é fundamental que haja representatividade não apenas da juventude de modo geral, mas de todas as juventudes existentes nas diferentes realidades da América Latina. É necessário a ocupação de espaços no intuito de garantir a acessibilidade digital de forma substancial. Nesse sentido, representantes do Observatório já participaram de uma série de eventos, cursos e atividades, posicionando a juventude dentro de discussões atuais sobre governança da internet.
Entre tais eventos, o Fórum da Governança da Internet (Internet Governance Forum – IGF), conforme já citado; o 7º Fórum da Internet no Brasil, em julho de 2016, em Porto Alegre, com a organização e realização de uma “desconferência” acerca da participação dos jovens na governança da internet, bem como a apresentação da Declaração da Juventude Brasileira (documento resultante da primeira edição do programa de capacitação Youth@ForumBr); e o Fórum de Governança da Internet na América Latina e Caribe (LACIGF), na cidade de San José (Costa Rica), em julho de 2016 — lá, além da presença de grande número de representantes, houve a participação de nossos membros em painéis na condição de palestrantes. Nessa ocasião, também aproveitou-se a oportunidade para a promoção de um evento próprio: o Youth LACIGF, que aconteceu um dia antes do evento oficial e teve participação de cerca de 70 jovens de mais de dez países. Representantes do Observatório também estiveram no ICANN 55 (Marrocos), na South School of Internet Governance 2016 (Estados Unidos), no IETF 95 (Argentina), no Lacnic 25 (Cuba) e no WSIS (Suíça).
Atividades
Os projetos atuais incluem: boletim mensal de oportunidades (compilação de informações sobre eventos da governança da internet, chamada para publicações e até processos seletivos para concorrer a bolsas de estudo e eventos); campanhas periódicas online; produção de conteúdo próprio para o site do Observatório e outras plataformas e, claro, a participação em diversos eventos. Alguns integrantes participam de iniciativas paralelas de ativismo cujos objetivos sejam convergentes, tais como a Coalizão Direitos na Rede, no Brasil.
Para o futuro, está prevista a participação na condição tanto de painelistas como de ouvintes no Fórum da Governança da Internet – IGF 2016, em Guadalajara, México, onde o Observatório terá um estande próprio para interação com o público e divulgação de suas atividades. Além da formulação de campanhas autônomas, o grupo está apoiando outras já vigentes, as quais visam ao uso consciente da internet entre os jovens em temas sobre privacidade, liberdade de expressão e segurança. Há também projetos para a abertura de grupos de estudo regionais em governança da internet e a promoção de debates abertos, em instituições de ensino, sobre privacidade, cibersegurança e direitos humanos, entre outros assuntos.
A partir de tais atividades e do planejamento de projetos futuros, o propósito do Observatório é criar e expandir dimensões de diálogo e cooperação ativa de jovens latino-americanos acerca das problemáticas que os afetam, de forma local, regional e mundial. Os jovens, ao serem empoderados, poderão não apenas avançar e participar dentro do ambiente da governança da internet, mas também difundir esse tema nas comunidades das quais fazem parte, ressaltando neste caso a alta permeabilidade acadêmica e social que se busca.
Apesar do foco na juventude, não existe idade mínima ou máxima para fazer parte do Observatório, basta ter interesse e comprometimento. Aliás, hoje existem integrantes não apenas da América Latina, mas do mundo inteiro engajados.
Para conhecer mais e acompanhar as atividades:
obdjuv.org
@YouthObs
/YouthObs
odjuventud@gmail.com