Camille MansellUma delegação do governo de Victoria (Austrália) especializada em educação veio ao Brasil, em abril, para reuniões com governos, instituições de ensino e de pesquisa como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A missão, liderada pelo ministro para Formação e Competências, Steve Herbert, anunciou a concessão de quatro bolsas de estudo e um curso para pesquisadores indicados por instituições brasileiras.

Nesta entrevista exclusiva ao Portal ARede Educa, Camille Mansell, diretora regional do governo de Victoria para a Educação na América do Sul, conta que a educação internacional é um segmento econômico forte no Estado de Victoria: “Mais de 150 mil estudantes estrangeiros geram uma receita de aproximadamente 4,7 bilhões de dólares australianos – o que representa mais de 30 mil empregos no país”.

Quais foram os integrantes da delegação ligados à área de educação em visita ao Brasil?
Camille Mansell – A delegação incluiu líderes de universidades internacionais, instituições de formação técnica com experiência internacional e institutos de pesquisa. A equipe foi composta pelo ministro para treinamento e habilidades, Steven Herbert MP; Maria Peters, CEO da Chisholm Institute; o professor George McLean, pesquisador principal da International Research on Education Systems; Julian Hill, diretor executivo da International Education, Migration and Employment; Megan Phelan, gerente da Business Development International Education, entre outros.

Quais as diferenças e semelhanças entre o Brasil e a Austrália no que tange à educação?
Camille – Melbourne, Victoria e Brasil compartilham do compromisso com uma educação de qualidade e com o treinamento para prover a indústria de profissionais formados com as habilidades certas. Ainda, compartilham do compromisso de garantir que a juventude tenha diversas opções de emprego. Nós ainda temos muitos interesses em comum na área de pesquisa, incluindo ciências da agricultura, gerenciamento de água, planejamento urbano e pesquisa médica. A Austrália tem uma renomada experiência em sistemas de treinamento para a indústria em um patamar nacional e de alta qualidade, pela qual muitos países nos procuram. E estamos especialmente interessados nas inovações brasileiras de combinar educação secundária com formação técnica, o que vêm ocorrendo em alguns estados.

Que tipo de parcerias vocês buscam?
Camille – Instituições em Melbourne estão super interessadas em mais troca e parcerias em pesquisas que beneficiem os dois países. Mobilidade dos estudantes é também uma prioridade. Melbourne é uma das grandes cidades de estudantes do mundo, com mais de 160 mil estudantes/ano. Esse número inclui um crescente percentual de estudantes brasileiros. E também queremos mais estudantes australianos no Brasil.

Quais as oportunidades para os países, considerando os setores público e privado?
Camille – Pesquisa é uma de nossas prioridades, considerando universidades do setor público. O mesmo pode-se dizer para a colaboração governamental, para compartilhar experiências em reformas de sistemas de ensino técnicos e tecnológicos. Instituições de ensino técnico em Melbourne têm grande experiência em trabalhar com a indústria privada e parceiros locais ao redor do mundo para entregar formação de alta qualidade, de acordo com necessidades específicas do local. Atualmente trabalhamos com parceiros em países como Arábia Saudita, Argentina, Chile, China, Colômbia, Índia, Vietnã, Malásia. Esse é um segmento no qual talvez possamos trabalhar conjuntamente com o Brasil.

Um dos objetivos da missão é ter mais brasileiros estudando na Austrália?
Camille – Melbourne é o lar de muitos estudantes brasileiros, cujas conquistas acadêmicas são esplêndidas e que trazem muita vibração para a nossa cidade. Esta missão, no entanto, não é exatamente para mobilidade estudantil. A missão busca estabelecer parcerias de longo prazo em pesquisa e parcerias em reforma do sistema de educação entre governos e instituições.

A Austrália mantém programas de intercâmbio estudantil para brasileiros? Há programas para troca na área de pesquisa e inovação?
Camille – Sim. Há muitas oportunidades de intercâmbio e também bolsas de estudo para os alunos mais brilhantes, especialmente para doutorados. Nesta missão anunciamos duas novas iniciativas: quatro novos programas de bolsas de estudo para doutorado em Melbourne, com início em 2016, em parceria com quatro organizações na América Latina. Esperamos ver estudantes brasileiros de sucesso. Essas bolsas cobrem todas as taxas de ensino e provêm 30 mil dólares por ano para despesas com estadia.

Também lançamos um programa de três semanas, para setembro deste ano, que irá trazer 30 pesquisadores parceiros, indicados por parceiros-chave na América Latina para Melbourne. Será um programa intensivo chamado “Pesquisa aplicada para crescimento sustentável e inclusivo: conectando universidades, indústria e governo”, financiado pelo governo australiano, com significativas contribuições do governo Vitoriano e parceiros latino-americanos. A lista de parceiros brasileiros inclui nomes da Fapesp, do CNPQ e da Fundação Araucária.

A Austrália tem cursos a distância que poderiam ser úteis no Brasil?
Camille – Sim, muitas instituições australianas oferecem cursos e-learning.

Quais os resultados preliminares da visita? Como pretendem dar continuidade ao processo?
Camille – Um resultado importante de mencionar é a assinatura de um Memorando de Entendimento entre o governo do sstado do Paraná, um compromisso de nossos integrantes para a cooperação, e o intercâmbio em pesquisa, educação e formação. Isso incluirá visitas anuais recíprocas! E, como já mencionei anteriormente, anunciamos novas bolsas de estudo para brasileiros na Austrália em parceria com diversas instituições locais.