No início, vinte anos atrás, era apenas a vontade pessoal de um professor da Universidade Federal do Ceará (UFC): engenheiro civil, com mestrado em ciência da computação e doutorado em engenharia elétrica, Mauro Pequeno estava interessado em compreender e aperfeiçoar o ensino a distância e de informática. “Me consideravam um tanto louco. Hoje, o sonho virou realidade”, comemora ele. Em 2010, o Instituto UFC Virtual tornou-se oficialmente uma unidade acadêmica no organograma regular da universidade cearense, assim como qualquer outra faculdade.
E o que mais mudou, na avaliação de Pequeno, diretor do Instituto, foi a credibilidade na aprendizagem por meio de plataformas digitais.
A comunidade acredita nessa modalidade de ensino. Prova disso é que a UFC Virtual já atingiu cerca de 5,5 mil alunos na modalidade de ensino a distância (EAD) e tem mais 500 na modalidade presencial. Abriga uma equipe de 40 docentes e 24 técnicos de formações variadas, além de estagiários e bolsistas. Entre os principais parceiros, estão a Fundação Capes e a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Mas também teve forte apoio da Unesco, da Ericsson e de órgãos governamentais.
De acordo com Pequeno, a unidade consiste em “um grande laboratório, com direito a ensino, pesquisa e desenvolvimento, para transformar a educação a partir dos diversos recursos tecnológicos disponíveis”. “Não queremos apenas usar a tecnologia para o ensino a distância, queremos influenciar todos os cursos da universidade e mostrar formas diferentes de educar”, frisa ele.
Para ministrar os cursos e as atividades didáticas, a UFC Virtual produz a maioria das tecnologias que utiliza. Um dos destaques é o ambiente virtual de aprendizagem (AVA) Solar — batizado em homenagem ao clima do Ceará. Desenvolvido como plataforma aberta, é por meio dele que professores e turmas interagem, acessam conteúdos e postam suas produções. Criado para oferecer rapidez no acesso às páginas, navegação fácil e compatibilidade com todos os browsers, o AVA é apoiado em uma filosofia de interação e não de controle, explica Pequeno. Todos os cursos incluem uma cadeira específica, só para ensinar a usar o ambiente, os recursos da internet, e até a usar o computador para alunos que não tenham familiaridade com o mundo digital. Com ferramentas como chat, videoconferência, animação, realidade aumentada e games, a plataforma já foi cedida para uso experimental no Itamaraty e em universidades particulares da região.
A UFC Virtual já chegou a 5,5 mil estudantes no ensino a distância e tem mais 500 na modalidade presencial. Abriga uma equipe de 40 docentes e 24 técnicos
Maria Silvania Marques C. de Souza, de 30 anos, cursa licenciatura em matemática pela UFC Virtual. Ela já tinha acesso à internet, mas a partir do curso melhorou a forma de utilizar: “Antes usava mais para bater papo e lazer. Com o curso, percebi outras possibilidades, inclusive a de ampliar o conhecimento”. Casada, mãe de dois filhos, um deles pequeno, Maria Silvania viu no EAD uma alternativa para se qualificar. “Sempre quis trabalhar com educação. Estudo à noite, quando meu filho está dormindo. Talvez um curso presencial não fosse possível”, constata.
A principal medida do sucesso da UFC Virtual, na avaliação de Pequeno, é sua capacidade de oferecer inovações em tecnologias educacionais digitais. E não apenas para a educação a distância. “Estamos introduzindo simulação e realidade aumentada no ensino presencial também. Recentemente houve uma aula com uma das maiores autoridades em transplante de coração, o cirurgião cardiovascular Glauco Lobo. Ele trabalhou com um coração humano em realidade aumentada. É uma coisa impressionante, sem ter que abrir cadáver!”, conta o educador.
Outra inovação em desenvolvimento na UFC Virtual, a ser lançada em outubro de 2015, é uma espécie de lousa inteligente, com recursos mais sofisticados do que os convencionais. A smartboard grava o professor; não apenas o que ele escreve e projeta no quadro. E custa apenas 10% do valor de um similar de mercado. Outro grande diferencial é que o equipamento é composto por um kit que o professor pode levar em uma maleta. Ou seja, é móvel.
A UFC Virtual também tem na mira as demandas por novos profissionais. Criou uma graduação que oferece qualificação tanto em educação e computação, quanto em design e comunicação, o curso Sistemas e Mídias Digitais. A procura foi tamanha que foi aberta uma turma extra, no período noturno, com processo seletivo no meio do ano. “Estamos formando o profissional que precisamos no instituto, dentro da filosofia que trabalhamos aqui. Esse profissional ainda nem classificação tem, porque é algo voltado para o século 21, mas o fato da procura ser grande mostra que muita gente entendeu a proposta”, salienta Pequeno. Em uma próxima etapa, após consolidado o curso de graduação, a UFC Virtual passará a oferecer cursos de mestrado e doutorado também envolvendo as áreas de educação, comunicação, computação e design.
Universidade Federal do Ceará (UFCE)
Instituição pública
Mantenedor: Ministério da Educação (MEC)
www2.virtual.ufc.br/portal2
Aqui, todas as reportagens do Anuário ARede 2015 – Boas práticas do uso de TICs no ensino superior