Luís Osvaldo Grossmann
Do site Convergência Digital

Dez anos depois de o governo federal começar a discutir o que era então apelidado de ‘laptop de 100 dólares’ – e aplicar mais de R$ 300 milhões na distribuição de equipamentos a alunos e professores – a administração reconhece que houve falhas na ideia, embora tenha sido repetida e reciclada. As compras de equipamentos, iniciadas em 2009, esticaram-se até 2013, com mudanças de concepção.

Em reunião para discutir a conectividade das escolas, promovida pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, constatou-se que a entrega dos equipamentos deixou a desejar. “Colocar computadores e tablets em sala de aula já sabemos que não faz sentido se não for parte de política elaborada”, afirmou o ministro da SAE, Mangabeira Unger.

O encontro, realizado nesta segunda, 15/6, já esbarrara no tema dos computadores de saída, quando o subsecretário de ações estratégicas da SAE, Daniel Vargas, sustentar que “a incorporação da tecnologia por si só não tem efeito que se espera. Jogar um conjunto de tablets sem um ambiente fecundo de colaboração e experimentação tende a frustrar o investimento com a tecnologia feito”.

O investimento foi razoável, considerando-se as três compras públicas de equipamentos realizadas desde 2009. Na primeira, a então Digibrás/CCE venceu a disputa para fornecer 150 mil laptops. Na segunda leva, o governo federal ampliou a encomenda para até 600 mil computadores – embora tenha efetivamente comprado pouco mais da metade disso, no caso da Positivo. Com a mudança do governo Lula para Dilma, decidiu-se trocar os laptops por tablets. E fez-se mais uma licitação, desta vez para 900 mil máquinas. No todo, cerca de R$ 330 milhões em compras.

A novidade da análise desfavorável está na admissão pelo governo. Ainda em 2011, pouco depois do lançamento formal do projeto Um Computador por Aluno, um estudo sobre o piloto dessa ideia em cinco municípios, coordenado pela UFRJ, já identificara encrencas que em essência jamais foram completamente solucionadas: desde a falta de energia elétrica à ausência de conectividade e mesmo de formação adequada dos professores.

Não por menos, na mesma reunião realizada pela SAE o secretário de Educação do Amazonas, Rossieli Soares da Silva, lembrou aos presentes que sem o devido preparo a novidade assustou educadores como uma ameaça. “Professores tinham medo de o notebook chegar por receio de serem demitidos se não soubessem usar”, contou.