midias-sociais-03spEm função das dificuldades de locomoção vividas pela comunidade escolar, por conta do deslocamento dos estudantes da Zona Oeste para as zonas Sul e Central da cidade do Rio de Janeiro, o Núcleo de Estudos e Pesquisas Audiovisuais em Geografia (Nepag), do Colégio Pedro II, campus Realengo II, idealizou o Projeto Transmídia Trânsito Carioca. A ideia foi trabalhar com alunos do ensino fundamental e médio os problemas relacionados à mobilidade urbana. A estratégia pedagógica: utilizar a narrativa transmídia, que consiste em uma grande história contada em diversas partes, por meio de diversas mídias, selecionando para cada parte a mídia que melhor possa expressar aquele determinado conteúdo.

Com apoio financeiro de um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp) do Rio de Janeiro, a iniciativa começou, em 2013, envolvendo jovens do fundamental e médio ligados ao Nepag. Após escolher o tema em conjunto, os estudantes decidiram produzir a narrativa por meio de diversos conteúdos: um curta-metragem, fotos, contos, podcasts, artigos científicos, jogos online e história em quadrinhos. O professor Yan Navarro da Fonseca Paixão, coordenador do Nepag e orientador de projeto, cita, entre os grandes desafios enfrentados, a falta de materiais de referência de qualidade sobre o tema. No entanto, do limão, fizeram uma ótima limonada: essa deficiência acabou motivando para a produção própria de conteúdos.

Na primeira etapa do projeto, as reuniões do grupo abordavam vários pontos do tema, em uma perspectiva transmídia. Por que a mobilidade urbana da cidade do Rio de Janeiro é tão ruim? Quais as consequências para a sociedade e o ambiente? Quais as soluções possíveis? Para responder a essas questões e elaborar o roteiro da narrativa, foram utilizados artigos científicos, reportagens, programas de TV e documentários. Na segunda etapa, foram definidas as mídias: filme, podcast, HQ, fotos, contos, artigos científicos, e jogo eletrônico. A equipe também fez um estudo sobre o potencial e a forma de uso das ferramentas para o projeto. Na próxima etapa, os estudantes colocaram as mãos na massa – filmaram, fotografaram, escreveram e programaram para cada mídia específica. Também aconteceu um concurso de contos e fotos com o tema da mobilidade urbana da cidade do Rio de Janeiro, para aproximar a comunidade escolar do projeto. A quarta e última etapa foi a divulgação da produção dos alunos nas redes sociais como Facebook e Twitter, no site do Colégio Pedro II.

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Responsável pelo projeto, Yan Navarro da Fonseca Paixão, coordenador do Nepag, conta que todo mundo fazia um pouco de tudo – o que tornou a experiência muito enriquecedora

Uma parceria com a Oi Kabum! de Ipanema propiciou um apoio técnico em relação às mídias. Houve cursos e palestras fora da escola e dois ex-alunos da Oi Kabum! Ministraram oficinas. “Os alunos aprenderam a utilizar a câmera Canon 60D, conheceram os tipos de microfones, tiveram noções de iluminação e captação de áudio, aprenderam novas possibilidades na edição de filmes e podcasts”, conta o educador. Outro grande desafio na execução do projeto foi a internet – na época, “ruim e inconstante”, de acordo com Navarro. Mas ele adianta que a escola já está em obras para melhorar a conexão. Entre os softwares usados, estão os programas livres Audacity, Scratch. Para editar os vídeos, IMovie e Moviemaker.

O estudante Gabriel Schuindt, do 2º ano do médio, estava acostumado a ter aulas mais tradicionais. Achou o projeto diferente: “Atraiu os estudantes pela inovação e por tornar acessível um tema polêmico e que faz parte do cotidiano”. Os alunos envolvidos não tinham muito delimitado quais suas funções, diz ele. Todo mundo fazia um pouco de tudo, o que tornou a experiência muito enriquecedora. “Com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos chegando, começamos a discutir a mobilidade para esses eventos, antes mesmo de iniciarmos o projeto. Tivemos acesso a especialistas sobre o assunto, pessoas diretamente ligadas às secretarias de estado”, lembra o jovem.

 A estratégia pedagógica consiste em contar uma história em partes, selecionando para cada parte a mídia que melhor possa expressar aquele conteúdo

Gabriel acrescenta que a experiência educativa foi muito prazerosa, motivadora e contribuiu para mudar suas próprias impressões sobre o papel da escola e sua tarefa como aluno: “Escola era aula e prova. Mas, com o projeto, tornou-se mais que isso. Ter contato com cinema, artigos científicos, noções de jogos, tudo isso ampliou minha visão de mundo, de possibilidades. Agora credito que minha função é pensar em melhorias para a comunidade, não só estudar e passar no vestibular”.

O Projeto Transmídia Trânsito Carioca, que já participou de feiras científicas nacionais e internacionais, resultou em artigo científico, no documentário “Maravilhoso Caos” e em um jogo, além do concurso de fotos e contos. Agora os estudantes se preparam para novas fases, explorando mais mídias para sua narrativa sobre o trânsito na cidade carioca.