Ensino a distância, sala de aula invertida, aprendizagem adaptativa são algumas das tendências tecnológicas apontadas como eficazes para aumentar a qualidade e a escala ao ensino superior no Brasil. No centro dos debates entre especialistas e uma plateia de gestores e educadores, essas foram as principais ferramentas educacionais destacadas durante o 3º Fórum de lideranças: Desafios da Educação, que teve como tema “O aluno como agente ativo do processo de aprendizagem”. O evento foi promovido, dia 8 de abril, pela Blackboard e pelo Grupo A Educação. Realizado na Universidade Positivo, em Curitiba (PR), o fórum teve apoio dessa universidade e da Hoper Educação.
Um prognóstico da disseminação de inovação na Educação do Brasil foi apresentado por Matthew Small, presidente de Negócios Internacionais da Blackboard. De acordo com um relatório do consórcio The New Media (NMC Horizon: Technology Outlook Brazilians Universities), dentro de um ano, a partir de 2014, data do estudo, os estudantes brasileiros estariam vivenciando práticas de sala de aula invertida, gameficação, aplicações móveis e ensino online. Pelo que parece, a previsão se concretiza. Para mais dois ou três anos, ou seja, 2015 a 2017, o estudo prevê o amplo uso de sistemas de análise de aprendizagem, aprendizagem móvel, conteúdos abertos, laboratórios remotos e virtuais. Para 2018 e 2019, realidade aumentada, internet das coisas, inteligência de localização e assistentes virtuais.
“Temos que fazer mais e mais rápido. Os estudantes não estão satisfeitos com o aprendizado linear”, disse Small, ao se referir ao novo perfil do aluno, que “chega à escola com outro background”. Ter tecnologia, ressaltou o executivo da Blackboard, não é apenas comprar softwares: “Precisamos atender as necessidades desses estudantes, que aprendem de forma muito diferente do que nós aprendemos dez anos atrás”.
Os desafios de fazer as mudanças que a educação exige também foram o foco da palestra de Carlos Longo, professor titular e pró-reitor acadêmico da Universidade Positivo. “Tudo o que a gente pensa hoje vai mudar, nos próximos cinco anos. O problema é que a gente não quer mudar. Nós somos a caixa preta”, alertou o especialista em educação a distância.
Longo acredita na consolidação de um modelo de ensino híbrido: “Em 2020, não vamos mais falar em EAD e presencial. Nosso sonho é a educação híbrida, que é uma necessidade da sociedade, do mercado de trabalho e das famílias”. Ele mostrou dados de uma pesquisa sobre uso de TICs em ensino a distância nas 20 maiores Instituições de Ensino Superior (IES) que apontam: em 2009, 90% dos cursos eram semipresenciais, via satélite; 4 % eram híbridos e 5% pela web. Em 2014, os cursos híbridos são 54%. Entre as demais tendências, o pró-reitor apontou a criação de produtos inovadores, a associação entre players editoriais e educacionais, a metodologia adaptative learning possibilitando qualidade com quantidade e a oferta de MOOCs como estratégia de marketing para as IES.
Aula é complemento
Durante o Fórum Desafios também foi apresentada uma experiência de educacional efetivamente inovadora, que está em implantação na Faculdade União das Américas, a Uniamérica, faculdade comunitária que fica em Foz do Iguaçu (PR). A partir de práticas como a criação de unidades de aprendizagem que substituem os programas curriculares tradicionais, alunos de oito dos 20 cursos da instituição experimentam uma forma diferenciada de adquirir conhecimento. “Aprende-se pouco assistindo aula. A aula é complementar”, disse Ryon Braga, diretor-presidente da Uniamérica.
Ao descrever a nova proposta pedagógica – uma composição de flipped classroom, ensino a distância, atividades interativas em classe, tudo apoiado por uma plataforma online de aprendizagem –, Ryon afirmou que “eliminar aulas é mais fácil que eliminar disciplinas – que foi o que nós fizemos”. E completou: “E eliminar disciplinas não quer dizer eliminar conteúdos”. Entre os desafios, um problema conhecido de todos: velocidade da internet. “Antes, a gente gastava R$ 1.200 mensais com conexão. Hoje, no novo formato, altamente tecnológico, gastamos R$ 26 mil. E não está dando”, lamenta.
Patrocinadora do evento, a Blackboard deverá realizar mais um fórum este ano, no segundo semestre, em São paulo (SP). A empresa, que fornece soluções acadêmicas e de gestão para instituições de ensino, está no Brasil há mais de dez anos, com mais de 1 milhão de usuários em 70 clientes. Pavlos Dias, gerente das operações no país, diz que a empresa investe, como tendência de mercado, em soluções “que coloquem o aluno, que está sempre conectado, no centro do processo de aprendizagem; e também em sistemas para análise dos dados acadêmicos, uma necessidade cada vez maior e mais imediata para a tomada de decisões”.
Mais!
Entrevista com Matt Small, presidente de Negócios Internacionais da Blackboard.
A Blackboard fornece soluções para todos os níveis de educação, do básico ao superior. Em sua opinião, quais são as principais demandas de tecnologia educacional no Brasil?
Essa é uma questão muito ampla. Acredito que a primeira coisa que as universidades precisam fazer é ter uma plataforma de e-leaning, que é a base para todo o restante, que seria executado na plataforma, o componente online para todas as facetas da educação dos alunos.
O novo ministro da educação, Renato Janine Ribeiro, acredita que a tecnologia pode melhorar a educação, especialmente em tempos de baixo orçamento, como enfrentamos agora. Mas muitos especialistas alertam sobre a qualidade dos produtos para educação a distância. Quais as características para um sistema efetivo de ensino online?
Janine Ribeiro, em seu discurso de posse, disse que precisamos de tecnologia na educação e precisamos superar o medo de que essa seja uma educação inferior à tradicional educação presencial. Eu acho que ele realmente sabe o que diz. No Brasil, há uma espécie de relutância legislativa, quase um medo de que os programas totalmente online não terão alta qualidade. E isso resulta em uma legislação que limita o número de aulas totalmente virtuais em universidades a apenas 20%. Eu acredito que essas barreiras serão vencidas. As pesquisas mostram que combinar aprendizagem online e presencial tem melhores resultados na educação, na retenção do conhecimento, na experiência e na satisfação do aluno. Nós precisamos fazer isso, se quisermos atender às demandas da sociedade e do mercado.
Alguns educadores acham que a indústria de tecnologia não fornece dispositivos projetados e pensados para o uso educacional. O que você acha dessa avaliação?
Eu não concordo. Acho que é um jeito retrograda de olhar para a questão. A tecnologia sempre vai progredir por si só, e em seu ritmo. E nos tornaremos mais eficientes e melhores em educação se nos adaptarmos à tecnologia, não o contrário. Acredito que comparar o formato de um telefone com o de um tablet, um laptop, um PC, dizer que alguns equipamentos são melhores para a educação do que outros não é o modo correto de olhar para isso. Nós precisamos de dispositivos projetados com design eficazes. Os sistemas de tecnologia são inteligentes o suficiente para saber que dispositivo está acessando e mudar automaticamente para atender às necessidades. Você pode fazer algumas coisas no telefone que você não pode fazer no PC. Um estudante pode checar suas tarefas, usar a câmara, integrar seus aplicativos, suas ferramentas sociais em um blog e pode interagir com todos os recursos no campus pelo telefone de forma diferente de estar em uma mesa. Isso não quer dizer que não é apropriado usar o telefone para a educação, só precisa ser usado de forma diferente.
Se você fosse um gerente de TI em uma escola privada e decidisse investir em tecnologia voltada para a educação. Quais seriam os primeiros passos em direção a melhor escolha?
Primeiro você implementa a solução Blackboard… (risos) E eu digo isso, honestamente, porque é uma plataforma que suporta muitas tecnologias instrucionais – com alguns conteúdos de base dos provedores de conteúdo, outros produzidos pelos próprios departamentos de ensino. Por exemplo, o departamento de matemática terá um programa de matemática, o professor de ciência da computação terá algo que ele mesmo produziu. Blackboard é a plataforma central para a universidade porque é a ferramenta que cada aluno usa, a cada dia, a cada hora, para tarefas, para debates, blog, chat, wiki, jornal, notas, é o dia a dia. E todas as outras tecnologias conectadas a universidade podem ser conectadas à plataforma.
* A jornalista viajou a convite da empresa Blackboard, patrocinadora do evento.