Ligado à Universidade de Cambridge (Reino Unido), o Cambridge English Language Assessment reforçou o foco no uso da tecnologia móvel voltada à educação. Geoff Stead, diretor de digital e novos produtos do departamento, comanda uma equipe que tem a missão de “inventar, testar e experimentar novas tecnologias móveis de aprendizagem de idioma”. Em vista ao Brasil, Stead falou para educadores sobre a experiência de Cambridge para que os professores, o ensino e a avaliação do idioma aconteçam de forma digital, de maneira alinhada com a expectativa dos alunos diante da tecnologia e do novo panorama de comunicação.
Neste entrevista ao portal ARede Educa, ele destaca: “Convencer e treinar os professores é de suma importância, pois é preciso mostrar a diversidade de atividades que podem ser desenvolvidas por meio de um dispositivo móvel para que isso facilite e até melhore os processos de comunicação e aprendizagem dos alunos”.
As ferramentas educacionais digitais são recomendadas para todas as idades?
Geoff Stead – A partir de uma idade que a criança consiga parar para canalizar atenção em algo, seguir instruções (mesmo que com ajuda) e entender mecânicas e lógicas, as ferramentas não têm restrição. Existem jogos que podem envolver crianças a partir dos 5 anos para aprender o inglês. Exemplo disso é o game Shop and Drop, um jogo online, desenvolvido pela equipe de pesquisadores de Cambridge English, especialmente para aprimorar o aprendizado do público infantil de forma lúdica e divertida. O jogo cria um ambiente de compras virtual, os jogadores podem aprimorar a estrutura de suas frases enquanto progridem pelos 15 níveis disponíveis. As palavras que fazem parte do jogo são baseadas na linguagem utilizada nos certificados Cambridge Young Learners e os graus de dificuldade refletem os níveis Startes, Movers and Flyers, sendo que o jogo vai ficando mais complicado à medida que o jogador avança.
Que soluções de TI para a educação já estão consolidadas e deram os melhores resultados?
Stead – Os melhores casos são os mais simples. Usando celulares para complementar atividades mais amplas na sala de aula ou para fazer as coisas que os computadores fazem. Por exemplo:
– Projetos com fotos, escrita, criação de apresentações etc. Utilizando ferramentas como o Padlet;
– Praticar a fala, com gravações ou filmando a si mesmo falando;
– Leitura de e-books, às vezes de forma colaborativa, como acontece no Goodreads.com;
– O uso de smartphones para atividades interativas em sala, como quizzes. É uma boa maneira de verificar a compreensão de uma forma motivadora usando, por exemplo, o kahoot.it e o plickers.com;
– Usando aplicativos gratuitos para definir quizzes para lição de casa, como o quizlet.com;
– Do lado de fora: usar o telefone para capturar imagens e sons fora da classe, com lições que são ensinadas em sala como, por exemplo, palavras do vocabulário, city tours etc;
– Grupos colaborativos usando ferramentas como o WhatsApp, Slack ou HipChat, para estender a comunicação fora da sala de aula.
Quais as tendências de ponta em tecnologia em sala de aula e quais as expectativas de serem integradas ao dia a dia escolar?
Stead – Já existem escolas que eliminaram o quadro tradicional e utilizam lousas digitais interativas e na minha área de especialização, que é o mobile, entendemos que essas lousas podem ter sistemas para serem conectadas a tablets e dispositivos móveis dos próprios alunos. Com isso, as atividades são propostas pelo professor e enviadas automaticamente para os alunos executarem. Além disso, poderão ser trabalhadas tarefas em diferentes aplicativos com visibilidade em tempo real, o que estimula o aluno por se tratar de um aprendizado mais dinâmico e alinhado com a rotina digital e moderna. Ao mesmo tempo, permite que o professor perceba o desempenho de cada um, os pontos fortes e fracos para orientar seus estudos de forma mais personalizada de acordo com as necessidades. Gostaríamos que isso fosse uma realidade, em breve, na maioria das escolas, mas sabemos da dificuldade que é por conta de investimento em tecnologia e também em capacitação.
Plataformas de ensino a distância ganham mercado nos cursos livres e gratuitos. A aprendizagem online pode substituir a aprendizagem presencial?
Stead – Enquanto no aprendizado em sala de aula você tem como foco apenas aquela tarefa no horário pré-estabelecido, o aprendizado online exige mais disciplina, pois fora de uma sala de aula, em casa ou em outros locais, o aluno tem mais distrações, como televisão, conversas paralelas com outras pessoas ao redor de assuntos aleatórios, telefone que pode tocar etc. Então, quando a pessoa se propõe a estudar a distância, ela precisa preparar um local de estudo que não tenha interferência e separar um tempo determinado para fazer o proposto. Além disso, uma coisa insubstituível do aprendizado presencial é o contato humano, a troca de experiência ao vivo e o online pode tentar substituir isso com chats entre alunos, mas nunca será a mesma sensação. Portanto, nós não enxergamos que um formato substitui o outro. Muitas vezes eles podem ser combinados para otimizar o tempo e maximizar o aprendizado e também existe uma aplicação que varia conforme o perfil do aluno. Um estudante que tenha mais facilidade para transitar pela cidade e que tenha um comportamento mais distraído provavelmente terá maior sucesso com o modelo presencial por ter alguém que controle o foco. Já uma pessoa que tenha pouco tempo para os estudos e que precisa estar mais presente em casa ou que viaja bastante por conta do trabalho, por exemplo, pode encontrar no ensino a distância uma metodologia que se encaixa no seu dia a dia.
Na maioria dos países, existem dois grandes obstáculos para a propagação da utilização de TIC nos processos de aprendizagem: o acesso à internet de banda larga e a formação de professores. Como superar este desafio?
Stead – Esse é realmente o maior desafio quando falamos de tecnologia aplicada à educação. Não basta apenas instalar uma lousa interativa, por exemplo, e pedir que se saia usando. Para dar início à utilização dos recursos temos que nos adaptar à realidade que o local nos apresenta e buscar maneiras de fazer as ferramentas mobile funcionarem. Convencer e treinar os professores é de suma importância, pois é preciso mostrar a diversidade de atividades que podem ser desenvolvidas por meio de um dispositivo móvel para que isso facilite e até melhore os processos de comunicação e aprendizagem dos alunos. Já a questão da internet é um ponto estrutural que depende de disponibilidade e investimento.