Aprender geometria no computador não é novidade. Existem simuladores, games e programas diversos para usar on-line ou baixar. Só que as novas gerações de estudantes, coladas em seus smartphones, já não veem mais utilidade em um teclado ou mouse. Esse novo paradigma de interação, literalmente na ponta dos dedos, não pode mais ser ignorado. E foi assim que surgiu o GeoTouch, software de geometria dinâmica para telas multitoque, que funciona pelo toque da mão. Deslizando os dedos e passando a palma da mão sobre a tela, o aluno constrói objetos geométricos, altera tamanhos, cores, ângulos, salva, compartilha arquivos, entre outras funções.
O GeoTouch foi desenvolvido no Caed — Laboratório de Computação Aplicada à Educação e Tecnologia Social Avançada. E está disponível, gratuitamente, na Play Store. O programa é livre e de código aberto. “Quem quiser o código-fonte, é só pedir”, informa Seiji Isotani, um dos coordenadores do Caed. Esse é apenas um exemplo do que faz o laboratório, que é ligado ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo, no campus São Carlos.
Atuam no Laboratório de Computação Aplicada à Educação e Tecnologia Social Avançada profissionais de computação, engenharia, psicologia e educação
Inaugurado em 2012, o Caed é composto por profissionais de diferentes áreas, como computação, engenharia, psicologia e educação. Tem como missão “investigar, desenvolver e aplicar técnicas computacionais na resolução de problemas educacionais, utilizando para isso abordagens multidisciplinares e inovadoras”. Isotani conta que o laboratório recebe alunos de graduação e de pós-graduação, trabalhando com o foco na melhoria da aprendizagem por meio da tecnologia. “Para isso, fazemos pesquisas em duas linhas: os processos de desenvolvimento de ferramentas e a interação da pessoa com a tecnologia.”
Outro produto do laboratório, também livre e disponível para qualquer interessado, é a Progtest. Trata-se de um ambiente web, onde estudantes se cadastram para submeter trabalhos práticos de programação baseada em atividades de teste de software. Um sistema automático avalia os trabalhos, sob monitoramento do professor. Ferramentas específicas fornecem apoio à aplicação de critérios de teste. Assim, tanto a qualidade do código quanto a qualidade dos testes podem ser analisadas auxiliando o aluno a projetar programas mais robustos e seguros.
A Progtest, elaborada em parceria com o Laboratório de Engenharia de Software (Labes), dá um retorno mais rápido sobre o que está sendo produzido pelas turmas. Mas, de acordo com os desenvolvedores, além de agilizar os processos, tem como diferencial as correções por meio de técnicas de teste de software — o que programas similares não fazem. “A Progtest ajuda no ensino de programação, pois utiliza técnicas de teste de software frequentemente adotadas nas empresas do mercado que desenvolvem produtos de alta qualidade e que não podem falhar, como sistemas de tempo real, de segurança, entre outros”, ressalta Isotani.
O ICMC é um dos núcleos da USP — universidade estadual que tem inúmeras outras iniciativas no gênero — onde se pensa e se pratica tecnologia a serviço da educação. Antenado em uma tendência que se dissemina a cada dia entre instituições de ensino de todos os níveis, do básico ao superior, o instituto promove e recebe atividades ligadas à robótica.
Em 2015, pela segunda vez, sediou uma etapa regional da Olimpíada Brasileira de Robótica. Antes do grande dia, o ICMC ofereceu um curso gratuito para professores e estudantes de escolas públicas locais, com o objetivo de estimular a participação na olimpíada. No dia da rodada regional, durante a competição, no ginásio de esportes da universidade, acontecia também a última aula do curso “O uso das tecnologias na aprendizagem: Excel, Word, PowerPoint e Robótica”, ministrado por duas professoras do instituto. Com kits de robótica, os participantes, docentes e alunos montaram robôs e construíram uma pista para testes.
Grande parte dessas ações, projetos e conteúdos é suportada por uma plataforma tecnológica de comunicação e gestão que integra toda a comunidade acadêmica da universidade: a Tidia, criada em 2009 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sob o nome oficial de Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada. Baseada em Moodle, foi customizada para a USP. Hoje, também conhecida como Ae, está disponível para todos os funcionários e alunos.
Thiago Alexandre Salgueiro Pardo, coordenador do curso de ciência da computação, é um dos usuários. Ele explica que o ambiente, colaborativo, abriga todos os bancos de dados, acadêmicos e de gestão, do ensino presencial e digital. “Tem lista de alunos, exercícios, provas, sites, gerenciamento de acessos. Dá para fazer tudo por aqui”, aponta Pardo. Um professor pode criar, por exemplo, um worksite, para provas online, postar material para as aulas, abrir fóruns de debates. Um gerente de projeto pode criar uma página onde compartilhe recursos, documentos, links. Os estudantes podem criar um site para trabalhar em grupo.
Universidade de São Paulo (USP São Carlos)
Instituição pública
Mantenedor: Ministério da Educação (MEC)
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Aqui, todas as reportagens do Anuário ARede 2015 – Boas práticas do uso de TICs no ensino superior