Desde que os pensamentos de John Locke – um dos principais protagonistas do empirismo – deram sustentação as propostas do behaviorismo, parte da educação ocidental apoiou-se na ideia de que nossos alunos seriam uma tabula rasa, ou, o correspondente a uma “folha em branco” à disposição do professor, o “professor transmissor”.
Essa é a principal linha da pedagogia tradicional representada por Johann Friedrichn Herbart e, no Brasil, pelos jesuítas. Essa visão vem com o tempo, entre o final do século 19 e durante o século 20, sendo questionada por pensadores como Jean Piaget, Anísio Teixeira e Paulo Freire, que chamam a atenção para que sejam considerados os conhecimentos prévios e as vivências dos alunos.
Observando o cotidiano da educação, percebemos traços dos dois pensamentos. Há escolas que “transmitem” conhecimentos esperando que os mesmos sejam “recebidos” e “gravados” de forma satisfatória e há escolas que mixam o currículo oficial com os conhecimentos dos discentes e ainda com o cotidiano da comunidade para estimular a tecitura (tecelagem) de culturas e saberes. Se concordarmos com a segunda linha de pensamento, os alunos com suas teias de saberes constituídos através dos sentidos, de suas vivências e do cotidiano escolar, observariam, traduziriam, mixariam, teceriam, desenvolveriam e experimentariam, através de um constante movimento de tear mediado pelo professor, a sua própria rede de sapiências.
Poderíamos então dizer que a função da escola é viabilizar essa tecitura e proporcionar uma constante interconexão desses fios/tecidos em uma grande rede de conhecimentos? Se a resposta for sim, até nos conceitos mais simples e que nos acompanham diariamente no trabalho cotidiano da escola seria interessante nos atentarmos para a nossa proposta educacional e alinharmos ainda mais o discurso à prática.
Por exemplo, falar em construção do conhecimento remete-nos à ideia de linearidade, causalidade e à percepção de que o conhecimento é cumulativo, ou não? Em seu lugar, podemos propor utilizar o conceito de “tecitura”, isso mesmo, tecitura com “C” de tecelagem, de tecelão, daquele que é capaz de tecer emaranhados de fios e uní-los a outros tecidos em uma grande rede de saberes.
Para tecer conhecimentos o professor tem, nos dias de hoje, vários recursos digitais disponíveis e de uso gratuito. Um que podemos destacar aqui é o Edmodo, local onde a educação encontra a inovação. Fundado em Chicago, Illinois (EUA), quando dois funcionários de uma região escolar decidiram construir uma ponte entre como os alunos viviam suas vidas e como eles aprendiam na escola, o Edmodo foi criado para trazer a educação para o ambiente do século 21. Com o Edmodo, o cotidiano da escola é diretamente conectado ao cotidiano do aluno e eis que surge o momento para o professor tecer os saberes considerando o currículo oficial e também os conhecimentos da comunidade em que vivem seus alunos.
Hoje o Edmodo é a rede social educacional número um para alunos do ensino fundamental ao ensino médio de todo o mundo, dedicado a conectar todos os estudantes às pessoas e recursos que eles precisam para atingir o potencial máximo. Recurso livre de propagandas, tem um mecanismo eficiente e seguro de envolvimento dos pais e responsáveis e é totalmente gratuito. Sendo assim, podemos abandonar o discurso que insiste em separar a teoria da prática, nos desvencilhar da forma hegemônica de relação entre docente e discente, representada há séculos pelo “professor transmissor” e saudarmos com um seja muito bem-vindo o “professor tecedor de ideias e conhecimentos”, pois o século 21 e a sociedade em rede estão à espreita.
Sandro Ribeiro é Google certified educator, coordenador de tecnologia educacional da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, coordenador estadual do Proinfo, mediador pedagógico Líder e formador de professores em novas tecnologias e novas formas de aprendizagem, entre outras atuações.