Uma criança de dois anos de idade. Mas uma criança da era digital, dessas que joga em smartphone e desenha figuras coloridas no tablet! Essa a imagem que melhor representa a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), criada em 2013. A instituição, um exemplo de ensino com tecnologia voltado a apoiar o modelo pedagógico, começou a funcionar com quatro pró-reitorias, uma das quais a de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Isso porque foi pensada com uma estrutura de gestão e administrativa muito leve e foco em tecnologia.
A UFSB tem presença em 48 municípios, remotos, pequenas cidades do sul da Bahia onde vivem cerca de 70 mil alunos do ensino médio, com uma demanda de 17 mil vagas para ensino superior, conforme estimativa da Secretaria Estadual de Educação da Bahia. Para dar conta dessa missão, foram instalados três campi — Jorge Amado, em Itabuna; Sosígenes Costa, em Porto Seguro; e Paulo Freire, em Teixeira de Freitas –, conectados entre si por fibra óptica, na velocidade de 1 Gbps, com backup de radiofrequência.
Mas também foi criada uma rede de colégios universitários, de modo que o início da formação é feito nas comunidades, com ambientes virtuais de aprendizagem. Em setembro de 2014, foram abertos oito colégios universitários. A meta é chegar a 50 unidades até 2020. Nesses oito primeiros municípios, não havia banda larga. O enlace por rádio foi garantido por acordo com provedores locais. Hoje os colégios estão conectados à rede universitária com links de 30 Mbps. O governo do Estado da Bahia fornece comunicação por satélite, que funciona como backup. Os colégios utilizam a internet para pesquisa, trabalhos, mas também têm acesso a aulas transmitidas dos campi e participam de eventos em tempo real. Os professores locais interagem com os coordenadores e docentes dos campi principais.
“Hoje priorizamos o tráfego para as ações vitais. Aula online, por exemplo, tem prioridade. Mas nosso futuro é 2020, quando teremos 22 mil alunos. Estimamos que a transmissão de uma aula exigirá 1 Mbps. Para interatividade, precisamos de algo entre 5 Mbps e 8 Mbps. Considerando também as atividades paralelas, calculamos entregar 72 Mbps por colégio universitário, mas aí teremos multimídia e vídeos em intensidade maior”, explica Raimundo Macêdo, pró-reitor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs) da UFSB.
Foi criada uma rede de colégios universitários, de modo que o início da formação é feito nas comunidades, com ambientes virtuais de aprendizagem
Cada aluno da universidade recebe um laptop, que pode ser utilizado também fora da universidade. Há dispositivos com sistema operacional Linux, mas também com sistema operacional Windows. Em setembro de 2014, foram distribuídos mil computadores pessoais, adquiridos da Positivo e da Hewlett-Packard (HP). “Não temos restrições a fornecedores. No momento, utilizamos software livre, mas o foco não é em etnologia específica, e sim na estruturação do raciocínio”, explica Macêdo.
Todos os alunos da UFSB têm conteúdos obrigatórios interdisciplinares envolvendo matemática, computação, línguas, relação universidade e sociedade, entre outros.
Uma das disciplinas que todos precisam cursar, independente do curso escolhido, é a de raciocínio computacional. “É uma cadeira importante por se tratar de uma nova forma de estruturação do raciocínio para solucionar problemas, presente em todas as áreas de atuação. Não se trata de informática instrumental (planilhas, browsers, etc.), mas de como utilizar a computação como estratégia”, explica Macêdo, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do programa da disciplina.
Para esse onteúdo, a UFSB dispõe de uma série de roteiros e materiais, especialmente elaborados por uma equipe de docentes. Atualmente, 12 professores, todos doutores, trabalham o raciocínio computacional. Utilizam ferramentas como o Scratch, linguagem de programação criada pelo Media Lab, do Massa-chusetts Institute of Technology (MIT), e o Python, linguagem de programação aberta.
O ensino é baseado em projetos e problemas. Alunos da área de medicina, por exemplo, criaram um programa que mostra as vacinas necessárias em cada parte do mundo. A turma de artes fez um programa para identificação de músicas. Para aprender os códigos, os estudantes utilizam games. Já passaram pela formação em raciocínio computacional os 800 estudantes matriculados em 2014 e mais 1.500 matriculados em 2015. O principal objetivo é possibilitar a formação ampla dos estudantes, com interdisciplinaridade, mas também desenvolver a autonomia de aprendizado em termos tecnológicos.
A UFSB também foi pioneira na realização de seleção por plataformas digitais. A universidade criou um concurso com etapas online. Na primeira fase, os documentos são eletrônicos, e as provas são corrigidas na rede, por avaliadores que podem estar em qualquer lugar do mundo. Os candidatos se deslocam aos polos presenciais apenas na fase das avaliações finais.
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
Instituição pública
Mantenedor: Ministério da Educação (MEC)
www.ufsb.edu.br
Aqui, todas as reportagens do Anuário ARede 2015 – Boas práticas do uso de TICs no ensino superior