Dar voz aos alunos das escolas públicas municipais de São Paulo. Essa é a ideia central da Agência de Notícias Imprensa Jovem, um projeto que começou tímido, foi conquistando espaço, virou lei e hoje é exemplo do que a educomunicação pode fazer pela inclusão, aprendizado e transformação social. Passados 11 anos desde sua primeira ação, a Imprensa Jovem reúne 150 agências de notícias, com a participação de cerca de dois mil estudantes da educação infantil ao ensino médio. Eles produzem conteúdos informativos multimídia.
No princípio, em 2005, a linguagem radiofônica era trabalhada com os estudantes pelo projeto Nas Ondas do Rádio. “Eram rádios internas, com música e informações da própria escola”, lembra o professor Carlos Alberto Mendes de Lima, coordenador do Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. “Quando a Escola Pedro Teixeira foi convidada para montar a rádio em uma casa do bairro de São Miguel Paulista, os alunos apresentaram a proposta de realizar entrevistas e cobertura de eventos dentro da comunidade. Além das gravações, eles fizeram registros escritos e criaram um blog”, conta. A iniciativa de inclusão de pautas jornalísticas nos projetos de rádio se expandiu para outras escolas, que se uniram para fazer a cobertura colaborativa de um congresso de educação, durante o qual os próprios alunos criaram o nome Imprensa Jovem.
No ano seguinte, o projeto deu um salto, com a substituição do equipamento analógico pela internet e pelas tecnologias digitais, como o software gratuito Audacity, de gravação e edição de áudio. “Passamos a utilizar blogs com podcasts e a divulgar as produções pelas redes sociais. Os laboratórios de informática educativa começaram a ser vistos como agências de notícias”, diz Lima.
Hoje, cada escola tem seus canais de comunicação independentes e decide, em conjunto com os alunos, quais formatos utilizar, entre os quais rádios virtuais, canais do YouTube, sites, blogs, redes sociais, fanzines e jornais impressos. As produções também são divulgadas pelo site do Núcleo de Educomunicação. As pautas e os enfoques das reportagens são definidos entre os estudantes, com mediação pedagógica dos professores, que os orientam durante o planejamento, a realização e a avaliação dos resultados. Os alunos participam da cobertura de grandes eventos, como Campus Party e Bienal do Livro, nos quais são credenciados como imprensa.
A Imprensa Jovem cria um ambiente propício para o aprendizado. “Além de potencializar habilidades e competências comunicativas, o projeto desenvolve a leitura crítica da mídia, a autonomia, a autoria, a colaboração, a apropriação das tecnologias, a autoestima e as relações interpessoais”, enumera Lima. A professora Lucimara Gabriel, da Escola Prof. Paulo Gonçalo de Santos, notou uma grande diferença nos seus alunos do fundamental que têm dificuldade de aprendizagem. “Diminuíram as faltas e a indisciplina nas aulas de recuperação. Alguns se tornaram diretores de equipes do projeto e desenvolveram concentração, foco. Eles conseguem enxergar uma função para o que estão aprendendo na língua portuguesa”, analisa. “Os alunos ampliam a visão de mundo, começam a traçar objetivos, a sonhar com carreiras profissionais. É um desenvolvimento integral”, completa Sidnei Lopes da Silva, professor de Informática da Escola Dr. João Augusto Breves.
O projeto gerou 150 agências de notícias, com a participação de cerca de dois mil estudantes, que produzem conteúdos informativos multimídia
O contato com o mundo da comunicação foi fundamental para as decisões profissionais de João Victor Machado Silva, de 16 anos: “Minha primeira ideia foi jornalismo, mas penso agora em cursar relações internacionais e estou me preparando para fazer intercâmbio nos Estados Unidos”. Ao terminar o fundamental, João Victor deixou a Escola Dr. João Augusto Breves, mas continua participando das ações da Imprensa Jovem. “Fica um vínculo com a escola, com os amigos. É um prazer fazer parte de um projeto que aprofunda os conhecimentos”.
Na Educação Infantil, a Imprensa Jovem representa uma oportunidade para as crianças a partir de 3 anos familiarizarem-se com as tecnologias. “O projeto permite que elas brinquem, expressem o seu olhar fotográfico, desenvolvam a oralidade e a comunicação”, explica Lima. O professor salienta que as atividades se estendem a estudantes com deficiência e à educação indígena.
A publicação de uma portaria, em 2009, definiu as normas para implementação do Programa Nas Ondas do Rádio, do qual a Imprensa Jovem faz parte. “O trabalho foi sistematizado, o professor passou a ser remunerado, foi possível ampliar a jornada escolar do aluno e contratar profissionais para ministrar cursos de formação continuada”, declara Lima. Em 2016, cerca de cem professores participam, juntamente com seus alunos, de um curso de e Educação a Distância sobre telejornalismo, com foco em direitos humanos.
Para os professores, há também cursos práticos presenciais com temas como gestão de projetos, educação integral na perspectiva da educomunicação, vídeo e cinema brasileiro. “Criamos uma política de empoderamento de professores e alunos”, ressalta o coordenador do Núcleo de Educomunicação, cuja criação, em 2015, também é resultado da Imprensa Jovem. “Evoluímos de um projeto para um setor com vários projetos e programas”, comemora.