portal-arede-educa-Preparados-para-as-emergencias

O sistema Unicamp 24 horas surgiu a partir de uma combinação de fatores, entre os quais a dificuldade de transmitir a teoria de emergência clínica, que é um conteúdo prático

No pronto-atendimento, a rotina muda pouco. O paciente chega e, normalmente depois de uma longa espera, é recebido por profissionais jovens, atenciosos, aparentemente dispostos a fazer o melhor para resolver o caso. Quem coloca sua vida nas mãos desses médicos não sonha, nem de longe, que boa parte do conhecimento deles pode ter chegado graças à internet.

Na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, os estudantes do 6o ano estão aprendendo muito pelo projeto Ensino Aberto, que desenvolveu o sistema Unicamp 24 horas, aplicado à disciplina emergências clínicas. Na prática, trata-se de um curso online em ambiente Moodle, com diversas funcionalidades: visita virtual, quiz de emergência, decisões extremas, desafios de eletrocardiograma, de raio X, ultrassom, entre outras.

Na visita virtual, por exemplo, toda segunda-feira os professores colocam no site uma nova questão, extraída de um caso real, de uma pessoa que procurou o pronto-socorro ou deu entrada na UTI. Os alunos têm até o dia seguinte para interagir. Na terça, o professor responde à questão, posta mais informações sobre o caso e levanta novos questionamentos. Assim a troca vai evoluindo, até o fechamento, na sexta-feira. Em cada caso, há links para artigos sobre o que foi apresentado, resultados e imagens de exames. Todos os casos vão para um banco de dados disponível a qualquer momento. O quiz de emergência reúne 260 questões de múltipla escolha que têm avaliação imediata do professor. O decisões extremas é um conjunto de 10 e 15 questões progressivas — só avança quem responde corretamente a anterior.

 O projeto Ensino Aberto, em ambiente Moodle, oferece visita virtual, quiz de emergência, decisões extremas, desafios de eletrocardiograma, de raio X, ultrassom 

“Todas as atividades são baseadas em casos clínicos reais e permitem a interação online entre colegas e com o professor”, explica Marco Antônio de Carvalho Filho, professor de emergências clínicas e criador do curso que em nenhum momento tem a pretensão de substituir a prática nem as aulas teóricas. Segundo Marcos, o Unicamp 24 horas, na verdade, nasceu por uma combinação de fatores, entre os quais a dificuldade de transmitir a teoria de emergência clínica, que é um conteúdo prático. “Também era complicado para professor e aluno enfrentarem uma aula teórica depois de passar o dia todo trabalhando no pronto-socorro, passando visita nos leitos”, conta. Com o curso, além de ganhar tempo, o interesse dos estudantes aumentou.

portal-arede-educa-Preparados-para-as-emergencias-01Uma avaliação feita pela universidade com os estudantes mostrou que, dos 70% respondentes, 97% se consideraram mais bem preparados para atendimentos de emergência e 82% relataram que se sentiam mais preparados e motivados para participar das visitas médicas reais. Nos anos de 2013 e 2014, 204 alunos visualizaram no total 420 mil páginas, cerca de duas mil página por aluno. Tiago Grangeia, que faz parte do time que estruturou o curso, relata que, em média, eles ficam 70 horas logados na plataforma. Embora o curso tenha duração de dois meses, os alunos participaram, em média, durante seis meses. E depois do estágio continuavam a entrar na plataforma.

Decidido a fazer residência em infectologia e a trabalhar com emergências, Roger Vieira Horvat, 24 anos, 6o ano de medicina, tenta participar diariamente da visita virtual. “Quando tenho mais tempo, vejo mais alguns casos de outras seções”, diz. Em sua opinião, o curso é uma ótima ferramenta de aprendizado e consolidação do conhecimento, pois a prática e o curso devem caminhar lado a lado. “Mas jamais uma plataforma de ensino a distância conseguirá substituir o aprendizado que a convivência humana propicia”, adverte.

portal-arede-educa-Preparados-para-as-emergencias-02

Os professores colocam no site uma questão, extraída de um caso real da UTI. Os alunos têm até o dia seguinte para interagir

Uma das pioneiras em educação a distância, a Unicamp se dedica a desenvolver essa modalidade de ensino desde 1999, quando a maioria dos docentes se mostrou a favor da implantação do sistema, desde que fosse preservada a qualidade do ensino, segundo José Armando Valente, integrante do Grupo Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE).

De lá para cá, a instituição vem investindo pesado na área, com iniciativas como a criação, em 2013, do Portal Unicamp OpenCourseWare, que segue as especificações e protocolos do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e hospeda conteúdos digitais originários dos cursos de graduação. Esses conteúdos são abertos à comunidade gratuitamente. O OCW Unicamp é parte do Consórcio OCW Universia, formado pelo conjunto de universidades espanholas, portuguesas e da América Latina que optaram por fazer sua adesão ao OCW e agrupar-se sob a afinidade cultural e geográfica do espaço ibero-americano, diz Valente.

O OCW Universia, por sua vez, é parte do consórcio denominado OpenCourseWare, que congrega mais de cem instituições de ensino superior em todo o mundo.

 

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Instituição pública
Mantenedor: Governo do Estado de São Paulo
www.unicamp.br

 

Aqui, todas as reportagens do Anuário ARede 2015 – Boas práticas do uso de TICs no ensino superior