Por Maristela Garmes

A Unesp desenvolve uma pesquisa que utiliza a produção do texto acadêmico com o uso de internet. O estudo analisou os links usados pelos universitários em suas produções de textos e observou que, na maioria, os caminhos utilizados fazem referência a textos de divulgação científica disponibilizados na grande imprensa, ao invés de plataformas de publicação de textos científicos.

“Para o aluno, o ‘fazer científico’ é visto como sinônimo da ‘divulgação científica’ feita pela mídia não especializada, o que o distancia de produção de texto privilegiada no contexto universitário”, diz a pesquisadora Raquel Wohnrath Arroyo, que desenvolveu sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, na Unesp de São José do Rio Preto.

Ela conta que, principalmente na formação universitária de graduandos que pretendem ser futuros professores, é fundamental o desenvolvimento de uma postura crítica e reflexiva sobre fenômenos da linguagem. “E isso só se torna possível se o aluno se insere em determinadas práticas letradas acadêmicas”, ressalta.

No período em que os textos foram produzidos, Raquel era estagiária do programa. Com autorização dos professores, ela propôs uma atividade de produção textual com base em um artigo acadêmico da professora da Unicamp Roxane Rojo: “O letramento escolar e os textos da divulgação científica – a apropriação dos gêneros de discurso na escola” para uma turma de 2º ano do curso de letras. A sugestão era que os alunos fizessem uso, além dos recursos gráficos alfabéticos, de recursos disponíveis no meio digital. No total foram produzidos 72 textos.

No mesmo momento, os alunos participaram de uma aula sobre como se pesquisa em bancos de dados que reúnem publicações periódicas. Para Raquel, embora os estudantes tivessem aprendido sobre funcionamento de plataformas digitais de pesquisa acadêmica, não houve correspondência entre os textos produzidos e o uso de tais ferramentas.

A pesquisadora avaliou que a inserção dos estudantes em alguma atividade que requer o uso da leitura e da escrita não depende apenas da instrumentalização (do como se faz) apontada pelo professor, mas está vinculada ao modo como o universitário concebe o que é produção de texto em contexto acadêmico e ao modo como ele interage com as tecnologias.

A prática do fazer científico voltada para as publicações chamadas científicas tem como característica o rigor que, como procedimento, busca a originalidade; a utilização de referências bibliográficas relevantes e atuais; a avaliação “cega” por pares, entre outras regras. “Um fazer científico deve considerar tais publicações, não se restringindo, portanto, à busca de leituras sobre determinados temas disponibilizadas na grande mídia”, finaliza.

Na avaliação da orientadora, professora Fabiana Cristina Komesu, do departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Unesp de Rio Preto, a instituição universitária no Brasil tem se voltado, há tempos, à utilização de tecnologias que possam contribuir para o desenvolvimento de novos aprendizados. Com este foco, diz Fabiana, “a tese permite avaliar, num curso presencial de formação de professores, que a instrumentalização não é e nunca será suficiente, apesar de ser certamente necessária”.

Para a orientadora, a questão é que o professor em formação inicial (mas não somente) tem de estar envolvido numa cultura acadêmica que lhe permita o contato direto ou indireto com diferentes saberes, em diferentes suportes e plataformas, sendo o tempo todo motivado a refletir sobre a produção de sentidos na linguagem. “Sem essa formação crítica, ferramentas digitais, sempre em emergência, apenas servirão à reprodução do que já é conhecido, do que já é sabido, sem possibilidade de transformação”, finaliza.

 

Da Unesp Agência de Notícias (UnAN)