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Alunos discutem um problema, levantando questões e desenhando os objetivos de aprendizagem. Também participam de lecture (palestra) com o objetivo de adquirir conhecimento; e fazem visitas monitoradas em campo

A passagem do ensino médio para o superior representa uma grande mudança de paradigma no processo de aprendizagem do aluno, que tem de se tornar mais autônomo e menos passivo. E se a passagem for para o curso de administração da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Ebape-FGV), então, põe mudança nisso! É que, desde o primeiro semestre de 2015, a disciplina de Introdução à Administração Pública adotou o método pedagógico chamado de Problem Based Learning (PBL), já no primeiro período da graduação.

A coisa funciona assim: os professores apresentam um problema, os alunos estudam e pesquisam em casa, trocam ideias entre si durante a semana e, na aula seguinte, presencial, debatem até chegar à solução. Essa metodologia requer um suporte tecnológico que, no caso da Ebape, é composto basicamente pela plataforma de aprendizagem D2L, para interação e pesquisas na web, e pela ferramenta de colaboração Wiggio. Durante as interações dos alunos, via Wiggio, não há intervenção dos professores. Eles apenas acompanham e trocam impressões entre si por Whatsapp, reunindo dados para a avaliação final dos debates, quando darão as notas aos alunos. Na D2L, os professores também postam as atividades e os alunos sobem a produção: um relatório da pré-discussão e outro da pós-discussão. Em paralelo, há trabalhos em grupo e individuais, e uma monografia de 60 páginas. A plataforma tem até uma ferramenta que identifica plágio.

O PBL foi aplicado pela primeira vez na FGV em 2013, na Escola de Economia, em São Paulo. “Na Ebape, começamos a planejar desde 2012, quando estive na Universidade de Maastricht, na Holanda, e na Universidade de McMaster, no Canadá, que usam o método. Mas isso é parte de um projeto pedagógico maior, que visa formar o aluno para a vida, e não para ser um administrador somente. A tecnologia deve ser, necessariamente, um meio e não o fim. Nós devemos primeiro pensar o curso e o projeto pedagó-gico para depois adaptar a tecnologia, e não o contrário”, alerta Henrique Heidtmann Neto, chefe do centro de graduação e responsável pelo projeto.

 O Problem Based Learning traz muitos ganhos pedagógicos, mas há questões a serem contornadas. Como o custo elevado que a metodologia implica

O educador explica que o PBL é fundamentado em um conceito socrático da aprendizagem, segundo o qual os alunos aprendem por si, e o professor passa a ser um facilitador. Além disso, é preciso fazer com que o aluno enxergue o que aprendeu na prática. Daí surge o desafio enfrentado pela maior parte das universidades brasileiras: como unir a prática à teoria? Para enfrentá-lo, a Ebape adotou também o Project Based Learning — na segunda parte do curso, os alunos vivenciam projetos corporativos reais, ajudando gestores de empresas a desenvolver projetos e solucionar problemas concretos. Essa etapa tem parceria com empresas como Coca-Cola, L ́Oréal, governo do Estado do Rio de Janeiro, Alcoa e diversas aceleradoras de startups.

portal-arede-educa-Para-que-servem-os-problemas-Para-aprender-02Uma pesquisa feita pela Escola com os alunos mostrou que eles não queriam mais só aulas tradicionais, alegando que estavam acostumados a um mundo mais dinâmico e interativo. “Então pesquisamos métodos de ensino compatíveis com uma visão educacional alinhada ao pensamento de Paulo Freire”, conta Heidtmann, que fez um curso na Universidade de Maastricht e trouxe uma especialista de lá para formar os professores da Ebape. Já passaram pela formação 60 docentes, pois o plano é expandir o PBL a toda a matriz curricular. Mas não tal qual o método funciona nas universidades estrangeiras. A instituição terá de encontrar seu próprio caminho. Um dos problemas é que, embora aprovem a novidade, os alunos reclamam da nota de participação, quando o professor analisa o desempenho, o conteúdo apresentado. Outra questão em estudo é o aumento dos custos. O método só pode ser aplicado a, no máximo, 15 alunos. Normalmente, as turmas têm, em média, 40 alunos e um professor. Com o PBL, a turma tem de ser dividida em três grupos com dois professores por turma.

Os ganhos pedagógicos, porém, são enormes: para cada hora em sala de aula, o aluno tem de estudar de duas a três horas fora para. “Além disso, o conteúdo e absorvido e não decorado. Sem falar na prática da colaboração, pois eles tentam chegar juntos à solução do problema”, ressalta Heidtmann. O desempenho é avaliado durante os debates finais para a resolução do problema, quando o professor dá um feedback individual e uma nota. Os alunos também fazem uma prova trimestral. O curso oferece webcasts, vídeos e e-books da Harvard Business Review. O projeto demandou investimentos de R$ 300 mil para formação dos educadores, fora os recursos para aquisição da plataforma D2L, que a FGV não divulga.

O estudante Paulo Von Oertzen já participou de sete sessões de debates e destaca a vantagem de ter um contato maior com o problema apresentado pelo professor: “É muito mais agregador do que somente um professor ensinando e o aluno recebendo informações. É preciso ler e estudar, porque se não entender não há como ter argumentos nas discussões”.

 

Fundação Getúlio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape-FGV)
Instituição privada, sem fins lucrativos
Mantenedor: Fundação Getúlio Vargas
www.fgv.br/ebape

 

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