Por Marcia Padilha e Adriana Martinelli
O novo ministro da educação, Renato Janine Ribeiro, acenou ao país sobre a importância da inovação na educação ao trazer à sua equipe uma assessora com olhar focado no tema, a socióloga Helena Singer. Acreditamos ser fundamental que o MEC assuma essa bandeira. E acreditamos que é papel desta coluna colocar mais lenha nessa fogueira. Aproveitando a conjuntura, dedicaremos alguns artigos a explorar experiências e referências que apontam especificamente para usos inovadores de tecnologias, a fim de trazer referências a gestores educacionais que pretendem experimentar inovações em suas redes ou escolas.
Para organizar a conversa, tomamos como fio condutor as tendências definidas os trabalho do NMC Horizons Report, um consórcio de universidades, empresas, ONGs, especialistas de todo o mundo que produz relatórios sempre atualizados sobre as tecnologias mais atuais relacionadas a cenários de aprendizagem inovadores. Já em sua edição de 2011, focada em educação básica – há enfoques diferentes em outras edições – o relatório apontava os dispositivos móveis como uma tendência a ser incorporada pela educação em um ano, no máximo. No entanto, cá estamos, em 2015, ainda nos havendo com leis que proíbem (!) o uso do celular na escola. É um total contrassenso que revela que, quando se trata de tecnologias, a educação está de costas para a vida, para o que está pulsando entre as pessoas, no seu dia a dia.
Queremos explorar aqui projetos que adotam a mobilidade em benefício de inovações educativas. Em um país que se pretende uma pátria educadora, com tão poucos recursos e grandes demandas, há um campo enorme a explorar em experimentações de oportunidades educativas a todo o tempo e em todo o lugar. Sim, o famoso jargão “educação fora dos muros da escola” tem nos recursos de mobilidade um grande aliado para tornar-se uma possibilidade concreta, inovadora, contemporânea.
E vamos aos casos. O eleito de hoje é o projeto Narrative Navigation. O projeto explora a mobilidade em dois sentidos. O primeiro o de deslocar-se pela cidade. Alunos e professores andando nas ruas e aprendendo com a cidade, na cidade e sobre a cidade. O outro é o uso de celulares conectados a um software que “conversa” com a cidade, inserindo, de modo virtual, informações sobre o espaço físico em que passeiam. O projeto ocorreu de modo experimental sob a batuta dos artistas e programadores Sander Veenhoof, de Amsterdã (Holanda), e o baiano VJ Pixel, da empresa memeLab – laboratório de mídias instáveis.
Narrative navigation é um software georreferenciado para celulares baseado em cenas de romances de Mario de Andrade. Conforme se anda por determinas ruas da cidade de São Paulo com um celular na mão, vão surgindo informações históricas relacionadas a cada local previamente programado. E também há uma brincadeira, um jogo que traz pistas sobre cada próximo local a ser visitado para se ir obtendo as informações que o software oferece.
O recurso tecnológico cria uma experiência de aprendizagem altamente inovadora, pela qual a cidade é o cenário onde se aprende sobre ela, exatamente na perspectiva de bairro e cidade educadora de que nos fala Helena Singer. Imagine a riqueza dessa experiência educativa que mistura o tempo atual com o tempo histórico e faz da cidade uma grande sala de aula. Imagine o que se pode explorar de aprendizagens procedimentais e conceituais das áreas de história, de geografia, de literatura e mesmo com noções relacionadas ao urbanismo e cidadania.
Imagine o quanto seria possível reorganizar os tempos, os espaços e até a programação curricular se a escola utilizasse recursos móveis tão sofisticados como esse e outros bem mais simples, mas com potencial similar para ensinar além dos muros da escola.
Imagine com quais educadores e quando (o mais rápido possível, estamos muito atrasados!) sua escola ou sua rede de ensino poderiam colocar em prática experimentos inovadores de aprendizagem com um celular na mão e os pés na rua. Lembre-se, a prova do pudim é comê-lo. Desejamos sucesso e recomendamos ousadia.
Links para explorar:
Entenda o recado da nova assessora do MEC sobre inovação
NMC Horizons Report – leitura obrigatória para gestores antenados
Aprofunde um pouco sobre projetos inovadores com tecnologias digitais móveis: aqui ; aqui e aqui
Marcia Padilha e Adriana Martinelli são empreendedoras da MEIO, educadoras e articuladoras de inovações na educação.