Terminadas as festas juninas, onde comemoramos, pelo menos no Nordeste, um São João com muita animação, milho, canjica, licor e fogueira, eis que chega o mês de julho. Mês de férias para alguns, não no caso das nossas universidades federais, em greve desde o início de junho. Mas julho é também o mês do maior evento de software livre do Brasil, o Fórum Internacional do Software Livre, o nosso querido FISL. Desta vez estamos no 16a. edição desse encontro que mobiliza a meninada de todas as idades, para debaterem, ensinarem, aprenderem, namorarem, enfim, agitarem o frio gaúcho, nos quatro dias do evento, que acontece na PUC do Rio Grande do Sul.

Integrado ao FISL há alguns anos, existe o Espaço Paulo Freire, que foi criado para abrigar os debates sobre educação e sua relação com o universo do livre. É curioso ainda discutirmos tanto essa relação. Para o nosso grupo de pesquisa GEC, educação e liberdade são indissociáveis. Portanto, deveriam sempre andar juntos, bem juntinhas. Na programação daquele espaço, associado com a programação geral do FISL, muitas discussões em torno do uso dos softwares livres na educação e, mais do que isso, discussões e oficinas que ampliam as nossas percepções sobre o tema, levando-nos a pensar essa dimensão do livre associada com o aberto. Assim, podemos avançar para a discussão da ciência aberta, dos dados abertos, da transparência, aportando, claro, na nossa já conhecida ética hacker.

Julho é também o mês da reunião anual da SBPC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a qual acontecerá desta vez em São Carlos, no interior de São Paulo, de 12 a 18 próximos.

Em ambos os eventos, os importantes temas aqui mencionados estarão presentes, pois compreendemos que a dimensão da liberdade na educação e na ciência (na sociedade, a bem da verdade!) é crucial para enfrentarmos as adversidades contemporâneas.

Fecho esta nossa conversa mensal falando um pouquinho mais desse movimento em torno da ciência aberta que, passo a passo, vai ganhando espaço no Brasil. Recente anúncio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) apresentou-nos o recém-criado Centro de Biologia Química de Proteínas Quinases da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que funcionará integrado à rede do Structural Genomics Consortium (SGC). Esse centro funcionará no modelo “acesso aberto ao conhecimento” e, segundo o mesmo comunicado, “o SGC mantém atualmente colaboração com mais de 300 grupos de pesquisas em 40 países. Também conta com a parceria de dez dos maiores laboratórios farmacêuticos do mundo.”

Apoiado pelo Open Knowledge Brasil, um grupo de pesquisadores brasileiro está tocando um importante movimento em torno da Ciência Aberta, o qual vem sendo estruturado dentro da Wikiversidade, um projeto abrigado pela Wikimedia Foundation.

Vivenciar práticas abertas de pesquisa científica é fundamental para fortalecermos a ideia de um mundo mais democrático e livre. O conhecimento não pode ser aprisionado, seja pelos próprios pesquisadores, seja pelas empresas intermediárias que se apropriam do conhecimento produzido, muitas vezes com dinheiro público, transformando-o em mercadoria a ser comercializada.

Precisamos avançar na busca da implantação de uma política científica e tecnológica para o país que tenha como base estas práticas abertas, o que passa, necessariamente, por uma mudança de rumo das políticas públicas, e de postura dos pesquisadores.

Que julho – no FISL e na SBPC – seja um mês de muita celebração em torno dos movimentos abertos no Brasil, América Latina e no mundo. E isso só acontecerá se a sua participação for intensa e ativista.

 

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Nelson Pretto
é professor Titular (e ativista) da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Secretário Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC – Bahia). Membro da Academia de Ciência da Bahia. Foi diretor da Faculdade de Educação da UFBA (2000 a 2008).