Por Cristiano Sieves
O valor das brincadeiras jamais deve ser subestimado por pais e professores, pois brincar é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Trata-se de um momento de descoberta, em que os pequenos interagem com o mundo que conhecem e expressam sentimentos. As brincadeiras também têm uma contribuição enorme para a aprendizagem, pois geram momentos de diversão, momentos de ludicidade. É importante considerar, contudo, os diferentes conceitos ligados ao lazer e à educação, de modo que os adultos possam intervir de forma positiva na vivência das crianças.
Deve-se levar em conta que nem toda brincadeira necessita de um brinquedo. A brincadeira de pega-pega, por exemplo, dispensa o uso de brinquedos e é fundamental para o desenvolvimento infantil, pois dá oportunidade para as crianças brincarem de maneira livre. Já os jogos se caracterizam por terem regras previamente definidas, mesmo que possam ser modificadas durante a evolução da brincadeira. Quando um jogo é divertido, promove entre outras coisas o raciocínio e a interação com outras crianças. Ele pode não ser divertido, por exemplo, quando não for direcionado para a faixa etária correta, facilmente deixando de ser interessante para as crianças.
Dentro do universo dos jogos e brinquedos, temos aqueles conhecidos como tradicionais, que geralmente são de domínio público, concebidos há muito tempo e que passam de geração em geração. Entre eles, os mais conhecidos ou mais populares estão o xadrez, jogo da trilha e o ludo, por exemplo.
Há também jogos e brinquedos comuns, encontrados em lojas e comércios do varejo, que costumam ter forte apelo à marca ou personagem e sua concepção é baseada no entretenimento. Por serem desenvolvidos para esse fim, alguns acabam inibindo a criatividade, a imaginação e a autonomia da criança. Não é raro os pequenos perderem rapidamente o interesse por esse tipo de jogo ou brinquedo. Por isso só deve ser usado na escola para momentos de recreação livre e com restrições. Já os jogos educativos e pedagógicos devem ganhar maior atenção de pais e professores, pois costumam aliar a diversão ao processo de ensino e aprendizagem.
Ainda há muita confusão sobre os termos educativo e pedagógico, mas aquilo que é educativo pode ser entendido em um campo mais amplo. Uma visita a um museu por si só, por exemplo, pode ser educativa, mas só terá um cunho pedagógico se contar com objetivos concretos definidos previamente e se o processo for mediado pelo professor. Essa definição se aplica aos jogos, de modo que os jogos educativos são construídos com um ou mais objetivos específicos, que proporcionam conhecimento em determinadas áreas. Já os jogos ou brinquedos pedagógicos são construídos com uma fundamentação teórica específica para determinada área do conhecimento, dentro do currículo escolar. Essas ferramentas propiciam uma brincadeira com intencionalidade, onde há um alvo específico a ser alcançado, com a interação e mediação do professor ou dos pais.
Diante do universo de jogos, principalmente os eletrônicos, é importante que os adultos possam identificar quais são aqueles que têm mais potencial para criar um momento lúdico e desafiador para as crianças. São soluções com esse perfil que costumam atrair mais a atenção dos pequenos e impactar positivamente seu desenvolvimento. Entre os fatores importantes que devem ser considerados na escolha de um jogo ou brincadeira, estão:
Faixa etária – alguns fabricantes costumam definir a faixa etária dos brinquedos por motivos de segurança e não de concepção, para justamente ter um público consumidor maior. Utilizar jogos que não tenham faixa etária adequada à criança pode gerar frustração e, por consequência, o desinteresse pelo brinquedo. Os jogos educativos ou pedagógicos são desenvolvidos por profissionais que se preocupam com esse detalhe.
Incentivo – prezar por jogos que estimulem a criatividade, a interpretação e a construção.
Acesso livre – não há sentido em separar brinquedos para meninas ou meninos. Todos podem e devem ter acesso livre, pois esta é a fase da experimentação.
Diversidade – é importante proporcionar à criança a maior diversidade possível de brinquedos, sejam industrializados, artesanais, de materiais frágeis ou não. Assim ela poderá conhecer diferentes concepções e culturas.
Autonomia e protagonismo – incentivar a criança a construir seu próprio brinquedo, principalmente usando sucata ou materiais recicláveis.
Dia do brinquedo – dar liberdade para a criança levar à escola um brinquedo da sua casa. É importante que elas manifestem o seu gosto pessoal e mostrem aquilo com que se identificam.
Diante do avanço das novas tecnologias no cotidiano das novas gerações, é possível afirmar que as crianças já estão super familiarizadas com smartphones, tablets e equipamentos semelhantes e, inclusive, podem considerá-los brinquedos ou suporte para brincadeiras. Por meio desses dispositivos, é possível ter acesso a uma infinidade de jogos, que são utilizados tanto para educação quanto para o entretenimento.
Como é uma tecnologia relativamente nova, ainda há muita resistência por parte dos educadores, e com razão, pois muitos jogos podem não ser adequados ao desenvolvimento da criança por terem, por exemplo, representações de armas ou ações violentas. Vale sempre uma análise crítica em relação à faixa etária e ao conteúdo dos jogos. Na dúvida, sempre priorizar aqueles que são educativos ou pedagógicos, pois além da diversão estarão proporcionando oportunidades de aprendizado para as crianças.
Cristiano Sieves é especialista em ludopedagogia da Playmove