Conhecida como “Cidade das Mangueiras”, Belém, capital do Pará, é uma das maiores e mais antigas cidades do Norte do Brasil. Localizada na região Amazônica, é conectada por três rios: Amazonas, Maguari e Guamá. A água que une a terra se dispersa por afluentes de todos os tamanhos, muitos ainda não navegados por grandes embarcações. Um convite a hackear as trilhas fluviais pouco conhecidas!
A ideia do Barco Hacker surgiu de um bate papo dentro da Casa de Cultura Digital do Pará, sob coordenação da jovem guerreira Kamila Brito. Inicialmente pensado para juntar pessoas com intuito de conhecer o contexto da Amazônia através de suas águas, o projeto foi se modificando. Durante o Fórum da Internet em Belém foram discutidas ideias de como e o que poderia ter em um barco hacker. Entretanto, a partir das duas viagens iniciais, a ideia tomou outros formatos, delineados com base nos erros e nos acertos do grupo de pioneiros flutuantes. Ficou definido que cada viagem teria um tema e um formato diferenciado e que as ações propostas em torno desse tema deveriam gerar interações com os participantes, seja dentro ou fora do barco.
O direito à informação é a motivação central desses temas e as ações realizadas pelos participantes tem gerado resultados muito interessantes produzidos colaborativamente. Por exemplo: os cursos a distância, as cartilhas educativas, aulas com temas de interesse local, como educação financeira para pais de alunos em uma das ilhas, com intuito de gerar renda para a família.
É comum que os encontros aconteçam em escolas públicas por concentrar o maior número de famílias de várias gerações. Já foram realizadas oficinas de dados abertos e produções audiovisuais. Em uma parceria com a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), foram produzidos alguns programas de rádio veiculando informações sobre a ilha visitada. E tudo isso feito junto com as pessoas locais, que nunca haviam passado por experiência parecida.
O barco hacker promove o encontro de profissionais de diferentes áreas e os residentes das ilhas, gerando uma troca de conhecimento muito rica. Kamila Brito conta que, nos bastidores das viagens, as responsabilidades e preocupações são grandes. Afinal, “tudo tem que dar certo, os horários devem ser rigorosos por questões climáticas e das marés, a segurança e o conforto de todos começa desde a alimentação leve e regional até o retorno do barco antes de escurecer”.
Nas primeiras viagens, equipamentos foram perdidos, molhados, mas nada disso desmotivou a turma. Tanto que um grande desafio tem sido atender as expectativas e as demandas que surgem nas viagens, cada vez mais frequentes e com pessoas de diferentes nacionalidades. Por enquanto, a maior parte dessas demandas não foi resolvida por questões financeiras e falta de mão de obra local. Mesmo sendo um projeto ligado à Casa de Cultura, as despesas das viagens são divididas entre as pessoas que seguem no barco. O projeto em si não recebe apoio financeiro de nenhuma instituição e os patrocínios não são frequentes. As tentativas de atuar em parceria com universidades ou incubadoras ainda são infrutíferas, pois as exigências burocráticas não dialogam com a realidade concreta do projeto, realizado por voluntários que, em sua maioria, não tem vínculos institucionais.
O barco hacker mapeia ilhas e igarapés pouco conhecidos, possibilitando rotas alternativas, assim como fazem os hackers. O componente humano é extremamente importante nessa empreitada. Para isso, Kamila busca dinâmicas interpessoais que conectam os interesses e dialogam com as diferenças, sem esquecer aspectos indispensáveis à segurança do grupo.