Nós não precisamos de educação”. Poucas mensagens conseguem expressar tão bem o estrago causado pelos modelos antigos de educação quanto a frase da música The Wall, da banda britânica Pink Floyd. Portanto, nada mais apropriado do que mergulhar nesse tema durante a oficina do onhecimento prevista no curso de Psicopedagogia Educacional — um dos quatro inseridos no projeto Pedagogia da Dúvida. Esse é o nome que a Universidade Anhembi Morumbi dá ao seu modelo de sala de aula invertida (flipped classroom), adotado no ano passado nos cursos a distância. Por essa metodologia, professores e tutores promovem a dúvida enquanto os estudantes são convidados a retomar o prazer da curiosidade investigativa, explica o professor Janes Tomelin, diretor acadêmico de EAD da universidade.
O clipe do Pink Floyd serve como um exemplo de omo isso acontece, na prática: os alunos assistem ao vídeo, postam sua avaliação, conferem as opiniões dos colegas, com direito a réplicas e tréplicas. “O professor vai alimentando, amarrando as discussões, incentivando a pesquisa e a interação entre os jovens”, explica Felipe Zaremba, professor de pós-graduação de várias disciplinas, entre as quais Psicopedagogia Educacional. O resultado, segundo ele, é um aprendizado online colaborativo, muito mais rico do que o do ensino presencial tradicional.
Com 24 disciplinas e uma carga de 360 horas distribuídas em dois semestres, o curso de Psicopedagogia Educacional é desenvolvido no ambiente virtual de aprendizagem Blackboard Learn, que possibilita a realização de webconferences e chats entre estudantes e professores. A base tecnológica adotada na sala de aula invertida não é diferente dos demais cursos a distância da Anhembi Morumbi. O que muda neste e nos outros três cursos inseridos no novo projeto de pós a distância (Metodologia do Ensino na Educação Superior; Docência em Enfermagem e Gestão da Enfermagem) é a adoção dessa metodologia ativa.
A flipped classroom chegou à universidade com os professores Tomelin e Zaremba, a partir do livro Pedagogia da Dúvida, de autoria de Tomelin. A implantação do projeto, em conjunto com a equipe de tecnologia educacional, não foi difícil, dada a experiência da Anhembi Morumbi em EAD — os primeiros cursos foram abertos em 2005, quando a Laureate International Universities assumiu o controle da instituição. “Para cumprir a meta de crescimento do EAD, traçada em 2012, a instituição melhorou o produto, reestruturou equipes, processos e metodologias, passando a apresentar o ensino a distância como um aprendizado de qualidade, com marcas fortes”, conta Tomelin. Hoje a EAD da Anhembi Morumbi tem 102 professores, 84 tutores e 15 funcionários administrativos. São 25 cursos (14 de graduação e 11 de pós) para dois públicos: estudantes dos cursos presenciais, que fazem pelo menos cinco disciplinas a distância, e os alunos específicos de EAD, cujo número a instituição não divulga.
O projeto Pedagogia da Dúvida trabalha com o modelo de sala de aula invertida (flipped classroom), adotado no ano passado nos cursos a distância
De acordo com Rafael Nardotto, coordenador de tecnologias educacionais, a universidade coloca à disposição de seus 44 mil alunos cerca de dois mil computadores, distribuídos em 109 laboratórios dos seis campi e nos 39 polos do complexo educacional. Cada campus tem conexão de 10 Mbps, com cobertura sem fio, fornecida por operadoras como a Embratel GVT, Tim e Oi. Também estão disponíveis projetores interativos, computadores, recursos multimídias (som/amplificadores), além de estúdios de rádio e TV. Um dos grandes desafios do projeto, explica Zaremba, é fazer com que o docente conheça o projeto, acredite nele e seja proativo: “O professor precisa ser constantemente orientado para que um conceito que não faça parte do projeto não apareça na sala de aula invertida. Não desejamos que utilize as palavras faça, copie, por exemplo. E com os estudantes vivemos a mesma situação, também temos de trabalhar a mudança de paradigma com eles”, explica.
Matriculado em Metodologia do Ensino na Educação Superior, Rui Augusto de Oliveira Júnior, um engenheiro civil de 33 anos formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, lembra que no começo teve dúvidas sobre como lidar com os trabalhos, como perguntar, tirar dúvidas e interpretar os questionamentos. “Mas as ferramentas de trabalho são muito interativas e os professores, bastante atenciosos, norteiam bem a evolução do conteúdo”, diz. “Apesar de o ensino ser a distância, sempre tem um grande número de pessoas interagindo com seus pontos de vista. É um ambiente altamente participativo”, acrescenta.
Segundo ele, o curso na modalidade EAD exige muita disciplina e automotivação, “mas o conteúdo é rico e interativo. o que o torna prazeroso e divertido”. Além de prepará-lo para ser docente de graduação, o curso o tem ajudado de outra forma: “Treinar, instruir e educar faz parte da minha atividade profissional e consegui aprimorar minha didática, quebrar o estigma de “engenheiro de exatas” para melhorar o lado pedagógico e humano necessário no meu ambiente de trabalho”. A oportunidade de assistir à aula do sofá de casa, acrescenta, é também uma vantagem inestimável.
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