Realizada ao longo de quatro anos, uma pesquisa sobre educação e tecnologias inaugura a série “Estudos Setoriais”, lançada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).

O estudo, que acompanhou a adoção das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em 12 escolas públicas do Paraná (representando a região Sul), de São Paulo (Sudeste) e de Pernambuco (Nordeste), foi feito a partir da observação de pesquisadores e de entrevistas com diretores, professores, alunos e outros atores da comunidade escolar.

O resultado dessa investigação foi documentado no livro Educação e tecnologias no Brasil: um estudo de caso longitudinal sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, disponível para baixar.

“Trata-se de um olhar longitudinal e contextualizado, por meio do qual temos a oportunidade de aprofundar as informações reveladas pela pesquisa quantitativa. Em vez de um retrato do momento, o estudo traz um filme sobre o que acontece no ambiente escolar no que se refere ao uso da tecnologia”, explica Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br. “Nessa medida, a experiência concreta das doze escolas investigadas constitui-se em uma referência para se pensar situações vivenciadas em outros estabelecimentos de ensino de todo o país e para o aprimoramento das políticas públicas do setor”, complementa.
Dados analisados

Dividido em três capítulos, o livro detalha a condição da infraestrutura TIC das escolas, as formas de uso e apropriação dessas tecnologias para a gestão escolar e a realização de atividades pedagógicas, assim como a habilidade e capacitação dos gestores, professores e alunos. Entre os dados compilados, a falta de qualidade da conexão à internet e de manutenção dos dispositivos ainda é um dos obstáculos a ser superado para a efetivação da implementação de TIC nas escolas, desafio que está estreitamente relacionado à adequação da escola às características dos programas governamentais.

Outra questão diz respeito ao uso de dispositivos móveis, que está alterando a dinâmica das instituições de ensino. “A gente dispõe de tecnologia à vontade, de equipamentos à vontade, em todas as escolas. Só que o equipamento não está mais dentro de uma salinha trancada, está no bolso do aluno, dentro do celular do aluno. Tem calculadora para todo mundo, filmadora, câmera fotográfica para todo mundo, dicionário, enciclopédias, tradutores, agendas, programas de games que você pode usar pedagogicamente”, opina um professor de Física* do 1º e do 3º ano do ensino médio, em entrevista aos pesquisadores.

Com o intuito de ampliar o acesso aos dispositivos móveis, diversas escolas receberam aporte de tablets e notebooks em função da transição para as políticas de informatização centradas no modelo de um computador por aluno (1:1). Apesar disso, o uso de celulares ainda é restrito em muitas escolas, que restringem também o acesso às redes de WiFi.

Habilidades e capacitação

Segundo os resultados do estudo, diretores, coordenadores e professores têm níveis bastante heterogêneos de conhecimento sobre as TICs. A percepção dos atores da comunidade escolar indica que o uso das tecnologias não altera significativamente o processo de ensino-aprendizagem e não promove impactos esperados no processo cognitivo de aquisição de conhecimento dos alunos, sendo utilizadas prioritariamente como apoio às práticas já existentes nos processos da escola.

Em uma parcela significativa das escolas, as TICs ainda são mais percebidas como auxiliares nos processos administrativos do que como parte dos projetos pedagógicos. E, mesmo quando integradas às atividades pedagógicas, são tratadas ou de forma instrumental – como um conhecimento que poderia impulsionar o desempenho dos alunos em avaliações oficiais e prepará-los para atividades profissionais – ou de forma ilustrativa, para apoiar a apresentação de conteúdos, em substituição ou em complemento à lousa e aos livros didáticos.

A investigação também revela avanços importantes: escolas nas quais os alunos se agrupam para produzir uma plataforma de troca de conhecimentos; professores que buscam formação por compreenderem a necessidade de aprimorar ou de inovar as metodologias utilizadas; diretores, coordenadores e professores que se unem para refletir sobre como as tecnologias podem auxiliar no aprendizado dos alunos. (Com assessoria de imprensa)

*Os professores, gestores e alunos tiveram a identidade preservada para que pudessem falar livremente durante as entrevistas