Por Marina Lopes
do Porvir
Qual seria o resultado de uma educação verdadeiramente inovadora? Para Silvio Meira, fundador e ex-cientista chefe do Cesar, essa evidência está em uma formação de aprendizes que evoluem constantemente e conseguem unir conhecimentos teóricos com execução prática. No entanto, ele afirma que investir em inovações não é o bastante para transformar um sistema educacional.
O engenheiro participou, dia 31 de julho, do debate “Acontece Educação: Inovar é possível”, promovido pelo Instituto Singularidades e pelo Cesar, em São Paulo, onde trouxe uma série de provocações sobre a possibilidade de inovar em sistemas educacionais.
“Inovar é possível e necessário, mas não é suficiente”, defendeu Meira. De acordo com ele, inovação é um conjunto de processos que acontecem dentro de um sistema formado por passado, presente e futuro. “A gente tem uma operação de manutenção do passado, execução [do presente] e inovação, que é pensando no futuro”, explica, ao mencionar que estamos dentro de um sistema educacional com milhares de anos.
O fundador do Cesar afirma que para transformar um sistema educacional é necessário começar pelas bordas com uma inovação incremental, que inclui modificações e aperfeiçoamentos. Essa inovação ganha força até se transformar em um processo e ser capturada pelos sistemas na forma de uma ruptura, a chamada inovação disruptiva. Ele também destaca que esse processo deve ser interativo, onde frequentemente acontecem erros e acertos. “A ciência do erro acaba sendo a ciência para a tecnologia do acerto.”
Diante das transformações da sociedade, Meira aponta cinco tipos de reações que os sistemas podem adotar, o que ele chama de índices de sobrevivência social: 1) deixar de agir diante das informações geradas; 2) compreender as informações e negar a realidade; 3) perceber as informações e reagir mantendo as estruturas do sistema independente do que acontece ao redor; 4) operar o sistema da melhor forma possível dentro de suas limitações; 5) entender o que está acontecendo e tentar evoluir com entendimentos novos e inovação.
Para exemplificar a necessidade dos sistemas educacionais se transformarem, Meira faz uma comparação com a bolsa de valores de Nova York, onde ele diz que a tecnologia da informação sofreu uma das inovações mais radicais dos últimos cinquenta anos. “Peguem a lista das cinquenta primeiras empresas da bolsa em 1975 e vamos olhar quarenta anos depois. Não tem a metade lá. Morreram porque não eram sistemas de inovação próprios. Elas acharam alguma coisa e conseguiram fazer aquilo, mas não conseguiram se renovar”, conclui.
O professor deve se tornar o empreendedor da sala de aula
Refletindo sobre possibilidades de inovação, a relação entre educação e empreendedorismo também foi um dos temas debatidos durante o evento. Com o intuito de alcançar resultados mais efetivos na sala de aula, Luciano Meira, cofundador da Joy Street, defende que o professor deve assumir uma postura empreendedora, que busca o crescimento orgânico da sala de aula e cria cenários de aprendizagem. “Tem um conjunto de mudanças pessoais que o professor precisa se envolver”, explica em entrevista ao Porvir, após sua apresentação. Entre essas mudanças, ele menciona a adoção de uma postura proativa e a atuação como um líder.
Ao estabelecer comparações entre a prática pedagógica e a cultura empreendedora, Luciano Meira afirma que a sustentabilidade da sala de aula deve estar na forma como o professor organiza o conhecimento em uma trajetória de aprendizagem significativa para os estudantes: “É outro tipo de sustentabilidade que você não precisa monetizar”.
Para se transformar em uma espécie de CEO da sala de aula e conseguir rapidamente conquistar algum sucesso, o professor deve encolher as inovações, diz. Em vez de pensar sobre o uso dos smartphones na sala de aula, ele deve se concentrar em estratégias mais específicas, como a preparação de uma aula sobre leitura de mapas a partir da ferramenta de geolocalização dos smartphones.
O design foi outra estratégia apresentada para conduzir inovações e auxiliar o professor a assumir uma postura empreendedora. O consultor de design e experiência do usuário do Cesar, HD Mabus, mencionou que ele pode servir como uma ferramenta para fortalecer o diálogo e criar novas formas de aprendizado. Um dos métodos sugeridos por ele é o design especulativo, que diferente do design thinking, trabalha com criação de roteiros e cenários para gerar discussões.