Por Karina Menezes e Gildásio Júnior
A Garagem Hacker de Curitiba funciona desde novembro de 2012, quando Igor Brandão, o fundador, também conhecido como Zero, já reunia, na garagem de sua casa, colegas interessados em tecnologias. Ele conta que desconhecia a existência de hackerspaces. Por isso, começou a pesquisar por nomes para o espaço e encontrou no site Hackerspace.org vários movimentos fora do país que visavam montar clubes de tecnologias. Então pensou “por que não um clube nerd?”
Ao entrar em contato com a turma do Garoa Hacker Club, achou fácil juntar as pessoas para abrir o espaço de modo mais formal e, ao mesmo tempo, continuar a fazer o que faziam. Foi se construindo, assim, uma forma de participação dedicada, como um clube, com uma filosofia baseada na “façocracia”. Assumir o que ele chama de política “façocrata”, de makers, ajudou a entender o que faziam com tanto gosto e a continuar investindo nisso.
Antes organizado e mantido como um clube, a Garagem foi tomando feições de coworking, como um agrupamento de pessoas que trabalham de modo independente, mas comungam valores e princípios. O espaço físico compartilhado gera um fluxo de troca de informações, de conhecimento e sinergia. Alguns não tinham um lugar estruturado para suas atividades profissionais e o coworking favoreceu a aproximação e a amizade entre o grupo.
Durante o horário comercial, o espaço é usado para atividades profissionais. À noite, funciona como um hackerspace, voltado para o desenvolvimento de projetos. Há contribuições voluntárias de participantes e a organização de mini oficinas que eles chamam de “classes”. Não se cobra mensalidade porque o grupo entende que vários frequentadores do espaço são estudantes e, diz Zero, “eles não tem muita grana para pagar mensalmente”. Assim, os mais velhos, que já desenvolvem atividades remuneradas, mantêm as principais despesas, como água, energia elétrica, internet, aquisição de ferramentas.
Os responsáveis pelo Garagem Hacker são profissionais autônomos, com personalidade jurídicas na área de tecnologia, mas atuam em especialidades diferentes. Zero trabalha com sistemas embarcados, implementando Linux em escolas e outros locais. Outros colegas são especialistas em redes e infraestrutura. Quando aparece alguma atividade profissional que um deles não pode assumir, podem realizá-la em conjunto ou repassá-la entre si.
As atividades do hackerspace no período noturno têm uma agenda anunciada no site. A turma está investindo em colocar um statusboot no site, com o desenho de uma lâmpada: acesa, indica que o clube está aberto. Geralmente às sexta-feiras ou aos sábados tira-se um “dia livre”, inteiramente dedicado a projetos. Na agenda constam o Arduíno Night (estudos em Arduíno), Hacker Cine (noite de vídeo), Dia do shell script (programação), Linux day (estudos em Linux) e a curiosa Sexta-feira dos Ovnis, para reunir pessoas interessadas em montar objetos voadores de diversos tipos, “identificados ou não”.
Zero considera que o mais importante para se integrar a um hackerspace é “levantar-se do sofá, esquecer o mundo virtual e ir fisicamente para o espaço, sem muitas delongas”. As pessoas pensam que é preciso um conhecimento especializado para participar do clube, mas isso não é verdade, diz ele. Qualquer pessoa poderia frequentar o espaço porque as atividades são abertas e há muito interesse em compartilhar conhecimento. Um exemplo foi a realização do Churrascker, no qual o uso de aparelhos tecnológicos é tão importante quanto a comida. Zero ensinou a filha de 4 anos a ligar um motorzinho CC com pilhas, e a menina ficou tão interessada que se divertiu um bom tempo com isso.
Na Wikki do Garagem os projetos são organizados em “projetos andamento”, “planejamento”, “concluídos” e “viagens adotáveis”. São propostas nas áreas de programação, engenharia, metareciclagem e saúde, como o projeto “cromoterapia” e o bem humorado “fumou-molhou”. A descrição de cada projeto é feita para que as pessoas possam conhecê-los e se integrar, de acordo com seus interesses. Por isso, podem funcionar como porta de entrada para novos integrantes, pois não seria preciso conhecer alguém em especial, mas se interessar pelo tema. Como diz Zero: “Nós somos um clube de amigos e quem chegar lá vai fazer parte do clube”.
Ao mesmo tempo em que a relação com o trabalho garante o funcionamento do espaço, há desafios. Os mais velhos têm responsabilidades profissionais e familiares e se envolvem em atividades diversas, o que lhes deixa com pouco tempo para se dedicar ao clube. Mas nada disso limita a perspectiva de aumentar o número de frequentadores que entendam a filosofia do espaço e a repliquem, façam projetos e levem a ideia do Garagem Hacker pra frente. Eles gostariam de transformá-lo em um point, um lugar em que as pessoas se conheçam, façam amigos, mas também façam coisas, projetem, inventem. A ideia é fazer da Garagem uma “balada nerd” inclusiva que dissemine o que há de bacana na cultura hacker.
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