Pensar a comunicação digital institucionalmente, como estratégia de expansão e qualificação do conhecimento, é uma prática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde o ano 2000, quando surgiram as primeiras iniciativas nesse sentido, resultando, em 2002, na criação da Secretaria de Ensino a Distância (Sead). Hoje, toda a comunidade universitária interage em ambientes virtuais de aprendizagem e de gestão, estruturas que abrigam e estimulam a produção e a disseminação de materiais didáticos digitais. Um bom exemplo é a Sala de Aula Virtual, criada em 2011, plataforma integrada ao sistema acadêmico da universidade, que pode ser acessada via Portal do Aluno ou do Servidor. A UFGRS também atua fortemente na oferta de cursos EAD, em parcerias que incluem a Universidade Aberta do Brasil e a Rede Gaúcha de Educação Superior a Distância.
Um desses cursos foi idealizado para suprir uma demanda histórica no país: ensinar a quem já está ensinando, sem tirar esse educador da sala de aula. Está aí uma tarefa que fica bastante facilitada com a internet. A partir dessa concepção, foi concebida a graduação-licenciatura em pedagogia na modalidade a distância (Pead), da Faculdade de Educação. A proposta é que o currículo seja diferenciado, articulado em eixos e interdisciplinas, trabalhando com metodologias interativas e uso intensivo das tecnologias digitais.
O curso, oferecido pela UAB, é dirigido a docentes do ensino básico regular e do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) que estão em atuação — a participação é quase 100% de mulheres, o que reflete a realidade brasileira nesse segmento. A formação parte da experiência dos professores em serviço, suas condições de vida e trabalho, propondo a articulação dessas vivências com um aprofundamento teórico.
No ambiente virtual Moodle, a plataforma Pbworks serve de repositório para conteúdos e atividades. Redes sociais como Facebook e Whatsapp são incentivadas para a interação entre os grupos. Mas os blogs são obrigatórios, com papel determinante tanto na aquisição do conhecimento quanto na avaliação dos estudantes. Cada aluna tem o seu e, ao final do semestre, o conjunto de posts torna-se um portfólio de aprendizagem. A cada semestre, em um workshop presencial, as estudantes apresentam o que aprenderam.
Desde a concepção inicial, o curso passou por mudanças e evoluiu no aspecto tecnológico. A primeira turma, de 2006 a 2010, atendeu 330 alunas em todo o estado do Rio Grande do Sul. Foi mantida totalmente por iniciativa da UFRGS, que fez parcerias com prefeituras para abrir os polos presenciais. A segunda turma, iniciada em 2015, já tem parceria com a UAB e atende 300 professores-alunos, com polos de apoio sediados nos municípios de Imbé, Porto Alegre e Vila Flores. No primeiro curso, as possibilidades eram limitadas, de modo que vídeos e webconferências foram pouco utilizados. Agora, ferramentas de streaming já estão incorporadas à metodologia. Para preparar os tutores que ficam nos polos presenciais, há uma especialização chamada Espead que envolve seminários, formação tecnológica e formação continuada nas disciplinas ministradas durante a graduação. “O avanço tecnológico faz uma diferença muito significativa”, avalia Rosane Aragón, coordenadora do curso.
A Sala de Aula Virtual, criada em 2011, é uma plataforma integrada ao sistema acadêmico da universidade que pode ser acessada via Portal do Aluno ou do Servidor
Rosane explica que, na primeira edição do curso, as estudantes tinham pouco ou nenhum contato anterior com a internet. Várias nem tinham computador em casa. “Acabou sendo um empoderamento também, no sentido de as alunas se apropriarem dessas ferramentas para as aulas e para a própria vida delas”, diz a professora. Algumas alunas da primeira turma se tornaram tutoras na segunda.
Professora há mais de 30 anos, Beatriz Guterres fez parte da primeira turma dessa graduação e considerou o curso de “extrema importância” para sua prática em classe. Mas o benefício não ficou só com ela. Tudo que aprendeu, transmitiu a outros professores da escola onde leciona: “Desktop, compartilhar, baixar eram palavras que causavam estranhamento em muitos de meus colegas. Pude me transformar em multiplicadora em minha escola”. A experiência foi tão rica que, após concluir a graduação, a docente acabou ingressando em outra universidade, onde fez pós-graduação em educação a distância.
Carla, que trabalha com alunos com necessidades especiais em uma escola de Porto Alegre, também aponta resultados positivos. Em especial pela vivência de ser professora e estudante ao mesmo tempo. “Foi riquíssimo, no sentido de que a prática não se distanciava da teoria. Procurei transportar para minhas aulas a maior parte das informações e formações, criei jogos, brincadeiras… Quanto mais as crianças correspondiam, mais eu criava alternativas. Construímos juntos nossos saberes, e a escola passou a ser divertida para eles e para mim.”
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
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Mantenedor: Ministério da Educação (MEC)
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Aqui, todas as reportagens do Anuário ARede 2015 – Boas práticas do uso de TICs no ensino superior