A realidade da banda larga no interior do estado do Amazonas, provida, em sua maior parte, por conexões via satélite de baixa velocidade e precárias conexões de rádio, vai passar por uma mudança radical com a chegada da fibra óptica. Dois dos 62 municípios do estado – Iranduba e Manacapuru – já estão iluminados e, tão logo feche a parte legal com a Prodam, a empresa de TICs do governo do Amazonas, a Telebras iniciará a comercialização dos links para os provedores regionais, de acordo com Luisa Tavares de Souza, gerente do Escritório Regional de Brasília da Telebras.

Os provedores farão a conexão da última milha para a comercialização da banda larga, mas órgãos públicos federais e estaduais serão atendidos diretamente por Telebras e Prodam, respectivamente. “Nossa missão é atender às demandas de TI do governo do Amazonas e conectar todos os pontos públicos”, disse Tiago Monteiro de Paiva, presidente da Prodam, durante o Encontro Provedores Regionais, realizado ontem em Manaus (AM) pela Bit Social, com apoio da Momento Editorial, da Abrint (entidade nacional de provedores) e da Apriam (associação de provedores do Amazonas).

Os dois municípios são os primeiros da rota Manaus-Coari, de 600 quilômetros, que vai interligar seis cidades, por fibras da Telebras, negociadas com a Petrobras que detém a infraestrutura em seu gasoduto, e iluminadas pela Prodam, num investimento de R$ 9 milhões que se completa até o final de 2015. Mas este é apenas o início da aventura da cobertura do interior do Amazonas por fibra óptica que, nas palavras otimistas de Eduardo Grizendi, diretor de operações da RNP, também presente ao debate, vai acabar com a dependência da região das comunicações via satélite.

Cabo subfluvial

O próximo passo será dado com o lançamento do cabo subfluvial em abril deste ano, que vai interligar, pelo leito do rio Solimões, o trecho entre Coari e Tefé. O projeto, batizado Amazônia Conectada, está avançado. Resultado de uma parceria entre Ministério do Exército e Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), com apoio da Prodam, de operadoras e da Apriam, o projeto já conta com recursos alocados do Exército (R$ 15 milhões) e, nesta semana, técnicos da RNP, da Prodam e do Exército estão na região para ver in loco o comportamento dos movimentos do rio. Como a distância entre as duas cidades não supera 200 quilômetros, não haverá necessidade de repetidora. Só os equipamentos de transmissão óptica nas pontas, fornecidos pela brasileira Padtec com cabo da Prysmian (ex-Pirelli Cabos).

Antes do lançamento do trecho Coari-Tefé, onde existe um instituto de pesquisa a ser atendido pela RNP com melhor conexão e uma unidade militar, o Exército que, de parceiro está se transformando em protagonista do projeto, vai interligar duas de suas unidades, que ficam em dois pontos extremos de Manaus, com um cabo subfluvial a ser lançado o rio Negro até o começo de fevereiro. De acordo com a apresentação feita por Grizendi, o trecho terá 10 quilômetros e vai consumir R$ 2 milhões, também do orçamento do Exército.

Se o lançamento e a performance do cabo subfluvial Coari-Tefé forem um sucesso, como esperam todos os técnicos envolvidos, a ideia é avançar com a fibra óptica pelo leito dos rios. De acordo com Paiva, da Prodam, depois da infovia do Alto Solimões, viria a do Alto Rio Negro, a do rio Madeira, a do Purus e a do Juruá. Tudo até final de 2017. Uma meta muito arrojada, reconhece ele, que pode consumir muitos anos mais. “Mas que vai mudar o nosso interior, carente de comunicações, de serviços púbicos, de cidadania”, disse Raquel Queiroz, secretária-executiva adjunta da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas.

Provedores Regionais

Para os provedores regionais de internet e serviços de telecom, a infovia pelos rios representa a oportunidade de conectar cidades e comunidades atendidas precariamente ou sem atendimento, pois não interessa aos investidores públicos do Amazônia Conectada prover a última milha. “Não faz parte da nossa missão”, reafirmou Grizendi, lembrando que 80% dos links da RNP são contratados de operadoras e provedores regionais. Se antes o monopólio do fornecimento era de operadoras como Embratel e Oi, dos pouco mais de 340 circuitos contratados em 2014, metade já foi fornecida por provedores regionais.

O Encontro Provedores Regionais Manaus, realizado pela Bit Social, reuniu cerca de 80 provedores, de dez cidades do Amazonas e de Rondônia, além de representantes de governos, da academia e da indústria.