Vinícius de Oliveira
Do portal Porvir

Uma pesquisa com 911 escolas de ensino fundamental do Rio de Janeiro (RJ) mostrou que 9 em cada dez têm atividades pedagógicas relacionadas com mídias como cinema, filmes, imagens e vídeos. Entretanto, ficam concentradas apenas na análise, e a produção, que ajuda na formação de alunos mais autônomos, ao permitir que tomem iniciativa no processo de aprendizagem, ainda é um ponto a ser desenvolvido na maior rede municipal da América Latina. Só 20% têm essa prática numa frequência considerada boa.

O trabalho chamado “Projetos de mídia-educação nas escolas da rede pública municipal do Rio de Janeiro e aprendizagem escolar” foi realizado em 2015 pelo Instituto Desiderata, em parceria com o Grupo de Pesquisa Educação e Mídia, da PUC-Rio, e a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foram usados nesta primeira fase, quantitativa, questionários respondidos por 911 escolas que ajudaram a fazer um panorama dos projetos e práticas desenvolvidos nas áreas de análise de produtos midiáticos, produção e uso de tecnologias na prática pedagógica. Essas dimensões, com acréscimo do item infraestrutura, ajudaram a compor um indicador batizado de MidiEdu, que ajudará a desenhar políticas públicas que ajudem a ampliar o uso de tais práticas.

Apesar de quase a totalidade das escolas terem data shows (99,2%), impressoras (98,6%), computadores (98,2%), TVs (97,6%) e DVDs (96%), isso não significa que as unidades de ensino estejam bem equipadas. Pesquisadores citam que a relação do número de estudantes por aparelho é muito baixa, especialmente porque cada escola tem em média 301 estudantes. “Ao olhar a fundo, 36% das escolas têm menos de dez computadores e, pensando no tamanho de cada uma, é muito pouco”, diz Joana Milliet, gerente de educação do Instituto Desiderata e coordenadora da pesquisa.

Até por conta disso, é sugerido que gestores pensem em estratégias que incorporem o uso de dispositivos móveis de professores e estudantes às práticas pedagógicas, com a condição de que estejam conectados a uma rede de internet de boa qualidade. Aqui mora outro problema. Como mostrou o Guia Temático Tecnologia na Educação do Porvir, a conexão das escolas é baixa, instável e na maioria das vezes está restrita ao ambiente administrativo. “Quando você pergunta [ao diretor] se a escola tem conexão, quase 100% dizem que sim, mas para 73% é ruim ou péssima e isso dificulta muito”, diz a representante do Desiderata.

Atividades

O levantamento também mostra que 80% das escolas têm como prática consolidada a análise de filmes e vídeos (1ª posição – 90,6%), fotografias/imagens (2ª posição – 81,1%) e textos jornalísticos (3ª posição – 80,8%). Entre as hipóteses levantadas pelos pesquisadores para a proximidade entre a escola e o cinema estão programas como cineclubes e encontros realizados por parceiros. No caso do material jornalístico, é apontada a facilidade com que professores conseguem ter acesso a esses conteúdos, o que afeta diretamente o dia a dia da escola.

Mesmo com internet deficiente na escola, o uso de redes sociais aparece na quarta posição, até por conta da popularidade desses recursos digitais entre os jovens e da necessidade de discutir temas como bullying e bullying virtual. Ocupa a quarta posição entre as mais efetivas práticas, com 69,3%, logo à frente do estudo de confiabilidade de fontes de informação na internet, quinto, com 63,8%.

Os questionário mostraram que a análise de conteúdos publicitários é pouco difundida e deve ser mais bem trabalhada. Pesquisadores veem esse tema como importante para que as crianças sejam preparadas a reagir criticamente aos anúncios dirigidos a elas.

Outra dimensão avaliada, a produção de mídia (escrita, audiovisual, sonora, eletrônica), é mínima. Só 38% produzem material escrito (jornais, histórias em quadrinhos ou revistas) e, em linha com os problemas de infraestrutura, 64% nunca realizam produção de vídeo, foto, rádio ou publicidade. Além disso, 54% não fazem atividades de produção de internet (blogs, sites, páginas em redes sociais).

“A gente acha que tem a ver com a falta de intimidade dos professores com a tecnologia e com a falta de formação”, diz Julia Milliet. Da mesma maneira que mostrou a Série Formação de Professores do Porvir, a pesquisa levanta a hipótese de que falta de contato com novas metodologias na formação inicial faz com que pesquisadores apontem que professores não sintam-se suficientemente seguros para implementar tais práticas com suas turmas.

Índice MidiaEdu

O índice criado para a pesquisa aponta que escolas com infraestrutura adequada e com professores aptos e seguros para orientar os alunos são aquelas que mais usam mídias em suas aulas. Também foi detectado que a maioria das escolas fundamental 2 com altos indicadores de síntese MidiaEdu tem um Iderio (Índice de Desenvolvimento da Educação do município do Rio de Janeiro) médio acima da média de outras integrantes da rede. A representante do Desiderata prefere, no entanto, não traçar ligação direta entre o uso de mídias na educação e desempenho. “Não podemos dizer que a nota é mais alta porque [a escola] tem atividade de mídia-educação. Mas há maior motivação [dos estudantes] para aprender”, diz.

A segunda etapa da pesquisa, qualitativa, acontece neste ano e vai direcionar a atenção para a observação e a abordagem das práticas dentro das escolas.