Você conhece as características dos principais minerais que formam as rochas? Agora, imagine que você está estudando para ser professor do ensino básico e precisa diferenciá-los por cor, formato, brilho, dureza, composição química, entre outras propriedades. É muita coisa para memorizar, em um processo que pode ser entediante. Pode, mas não precisa. Partindo dessa premissa, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) criou o jogo online “Qual Mineral Sou Eu?”, dirigido a alunos da disciplina de Estudos da Atmosfera, Geosfera e Hidrosfera, do curso de licenciatura em Ciências Naturais e Matemática.
O estudante recebe uma carta com uma dica de qual mineral está oculto. Ele pode tentar adivinhar ou pedir mais dicas. A cada acerto, ganha um mineral precioso. Quanto menos dicas dadas, mais precioso é o mineral conquistado. Dependendo do desempenho, recebe desde um diamante até um caco de vidro, se errar todos os palpites. “Eu me diverti e consegui fixar a matéria”, conta Luciane Taís Wordell Diogo, 40, estudante de licenciatura em Biologia. “Jogos atraem os adultos também, ainda mais nesse caso, de uma enxurrada de conteúdos para gravar. Ajudam a memorizar sem tanta pressão”, argumenta.
Foram criados jogos, mapas, infográficos e uma linha do tempo, todos interativos. Os alunos são incentivados a compartilhar os recursos nas redes sociais
Esse jogo faz parte de um conjunto de Recursos Educacionais Abertos (REA) desenvolvidos no último ano pela Univesp, considerada a quarta universidade pública paulista. Além de jogos, foram criados mapas, infográficos e uma linha do tempo, todos interativos, a princípio para os cursos de licenciatura ou em comemoração a datas especiais. Os alunos são incentivados a compartilhar os recursos nas redes sociais, para alcançarem também o público que não estuda na instituição. A própria universidade usa suas redes para divulgar à população em geral.
A ideia surgiu em 2015, quando os graduandos estavam aprendendo História da Educação. “Queríamos sensibilizá-los sobre os acontecimentos mundiais. Decidimos criar um aplicativo para conectar esses eventos a datas marcantes da vida pessoal dos alunos”, lembra Elizabete Briani, consultora educacional da Univesp. No Dia do Estudante, 11 de agosto, a universidade abriu em seu site a página “Minha história na História”. Após responder a perguntas como o primeiro ano na escola e quando conheceu o melhor amigo, o usuário ganha uma linha do tempo com seu nome e a junção de sua trajetória com o percurso da educação, ciência e tecnologia.
Desde então, os estudantes e toda a sociedade foram presenteados com mais sete recursos interativos, que hoje integram o projeto “Univesp: Conhecimento como bem público”. Os outros REA abordam placas tectônicas; camadas atmosféricas; rochas que fazem parte de edifícios do centro da cidade de São Paulo; vocabulário em inglês usado para descrever o meio ambiente; características a serem desenvolvidas para estudar a distância e acessibilidade e inclusão da pessoa surda na escola. Desenvolvidos em linguagem HTML 5, os recursos são responsivos, funcionando também em dispositivos móveis.
Para elaborar esses recursos, a equipe levou em conta princípios de engajamento; criatividade e diversão; compartilhamento e situações-problema. Elizabete conta: “Trabalhamos a interface, a dinâmica e a dialética de conteúdos visando despertar no aluno concentração, prazer, motivação, interesse, desejo de compartilhar o material e de aprender com outros em situações menos formais de aprendizagem”. Uma pesquisa interna mostrou que 65% dos 700 alunos vivenciaram esses princípios ao usar os recursos. Wanderley Campos Moreno, 43 anos, estudante de licenciatura em Matemática, ressalta: “Não esquecemos o que aprendemos com o jogo. O game estimula o interesse e aumenta a aprendizagem porque somos familiarizados com suas dinâmicas desde pequenos”.
A produção de cada recurso mobiliza uma equipe composta por docentes, profissionais de Tecnologia da Informação, designers instrucionais, gráficos e de interface. Não há dedicação exclusiva: os funcionários têm outras atividades concomitantemente e, em período de ofertas de cursos, precisam driblar a restrição de tempo. Estão previstas contratações de pessoal técnico, que são bem-vindas também devido aos planos de expansão do projeto.
Uma nova versão do portal institucional, em preparação, vai oferecer cerca de 20 recursos multimídia já criados, além de livros-texto e playlists de videoaulas, realizadas em parceria com a Fundação PadreAnchieta (atualmente, há mais de 5.800 aulas acessíveis pelo Canal no YouTube da Univesp TV). Desenvolvido com o software livre de gerenciamento de conteúdo Locomotive, o site terá sistemas de busca e indexação. “Estamos produzindo os metadados para garantir uma disponibilização eficiente. Não basta oferecer conteúdo, é preciso informar para que serve”, enfatiza Daniel Carnelossi, gerente de equipe técnica da Univesp.
Os recursos educacionais abertos também serão acompanhados de textos de apoio aos professores para uso em sala de aula. Em um futuro um pouco mais distante, a intenção é de que o site funcione como plataforma de criação colaborativa de REA, com os materiais em código aberto.