tel-arede-educa-1O Grupo Escola Municipal Manoel Domingos de Melo, que fica na Zona da Mata de Pernambuco, em Vitória de Santo Antão, é uma escola privilegiada. Apresenta uma taxa de Ideb de 2,8 (em uma escala de zero a 10), índices de reprovação que chegam a 10%, utiliza um sistema de saneamento por fossa séptica e se abastece por água de cacimba (uma espécie de cisterna cavada no chão). Até aqui, nada incomum nas cerca de 167 mil instituições de ensino públicas rurais do país.

Só que a Manoel Domingos acaba de se tornar muitíssimo diferenciada em relação a seus pares. Enquanto a imensa maioria das escolas do campo não está sequer conectada e, quando conectada, opera com sofríveis sinais de rádio, satélite ou, na melhor das hipóteses, um link de 2 Mbps, a Manoel Domingos foi escolhida pela Telefônica Vivo para ser um laboratório apoiado pelas novas tecnologias, iniciativa que integra o programa Escolas Rurais Conectadas. E esse é o raro privilégio, até então concedido apenas a mais uma escola no Brasil, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Zeferino Lopes de Castro, em Viamão (RS), em 2013.

Protagonista da dura realidade educacional descrita acima, a Manoel Domingos recebeu em seu terreno uma antena celular 4G. Assim, passou de uma escola onde não havia sinal de internet a uma escola com acesso à rede mundial em altíssima velocidade (40 Mbps para download e para upload). Para se ter uma ideia do que isso significa, pelo programa federal Banda Larga nas Escolas (PBLE), todas as instituições de ensino são obrigadas a ter, como contrapartida das concessões às operadoras de telecom, links de 2 Mbps; e, em um segundo momento do PBLE, algumas deverão ter o máximo de 10 Mbps.

A Manoel Domingos, além de sinal celular com potência quatro vezes maior que o melhor cenário disponível, recebeu também o programa Escolas Rurais Conectadas e foi considerada um “laboratório”.  Por isso, ganhou 150 tablets para uso dos alunos e 20 notebooks para uso dos professores, doados pela Qualcomm, parceira na iniciativa pernambucana. E está recebendo orientação e formação do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), que desenvolve, junto aos educadores locais, um projeto pedagógico que inclui o uso das novas práticas educacionais por meio das tecnologias da informação e da comunicação (TICs).

O desafio é grande e estimulante: a maior parte dos 140 alunos do ensino fundamental (1º ao 5º ano) nunca tinha visto um tablet. Entre os professores, alguns nunca tinham digitado em um teclado de computador. Em meio às ruas de terra e às construções simples do entorno, a escola, recém-reformada, tornou-se uma ilha de tecnologia e os esforços do programa são no sentido de que se torne um polo irradiador de inovação na educação, conta Walquíria Castelo Branco, do Cesar. “Uma característica importante é que estamos aplicando a metodologia como parte do currículo formal, não se trata de uma atividade contra turno. É o uso das TICs em sala de aula, para aprender os conteúdos do programa letivo”, ressalta Walquíria.

A iniciativa envolve parceiros de conteúdo. Como o Programaê, outra iniciativa da Fundação, para incentivo à aprendizagem de programação; e o Robótica livre, de aprendizagem de robótica. Entusiasmada com os dispositivos construídos em material reciclável que obedecem a comandos remotos, a estudante Pâmela, do 4º ano Fundamental, diz que espera aprender mais agora, com os novos equipamentos. Os tablets, da Samsung, vêm com capas emborrachadas protetoras coloridas.

Américo Mattar, presidente da Fundação Telefônica Vivo, responsável pelo Escolas Rurais Conectadas, conta que as experiências das escolas laboratórios serão submetidas a uma avaliação feita  pela Unesco. “Queremos aprimorar esses projetos de forma que possam ser replicados e implantados em escala nas demais escolas rurais”, diz Mattar. De acordo com ele, a solução 4G, que ainda não chegou ao povoado de Oiteiro, onde fica a escola, não deve demorar a ser oferecida na área.

A conexão celular, observou o presidente da Qualcomm para a América Latin, Rafael Steinhauser, pode ser aplicada com facilidade em qualquer lugar. A Qualcomm, responsável pelo também pelo design da solução, explicou que esse tipo de cobertura reduz os custos de manutenção: “É pelo menos 50% mais barato”.

 

A jornalista viajou a Vitória de Santo Antão (PE) a convite da Fundação Telefônica Vivo.