A TEORIA sociocultural proposta por Lev Vygotsky e adaptada ao contexto de ensino de língua estrangeiras por James Lantolf, entre outros, tem como premissa básica que aprendemos mediados pelo outro. Como explica Lantolf, “pessoas que trabalham em conjunto são capazes de co-construir contextos em que conhecimentos emergem como uma característica do grupo”.
As plataformas wiki são ferramentas que propiciam a co-construção de conhecimento por meio de atividades em grupo. Uma das mais famosas é a wikispace [wikispaces.com], um ambiente que permite a edição e a publicação de páginas na web, inserção de conteúdo, documentos, vídeos, imagens, e pesquisa. Os participantes, incluindo o professor, podem acompanhar as edições e também fazer comentários no texto que vão construindo a várias mãos.
Além das wikis, existem os editores de texto online. De acordo com os autores Ana Elisa Novais, Ana Elisa Ribeiro e Carlos D’Andréa, “o mais conhecido no Brasil é o Google Docs, uma espécie de Bloco de Notas ou Word que funciona quando o usuário está conectado”.
Tanto nos ambientes wiki como nos editores de texto online, as pessoas podem escrever um texto a várias mãos e desempenhar diferentes identidades: a de aprendiz, a de colaborador, a de escritor, a de leitor, a de conhecedor de um determinado conteúdo, a de revisor e a de editor. É de se esperar, portanto, que os produtos desenvolvidos, colaborativamente, sejam de qualidade superior aos produzidos individualmente.
Há algum tempo, venho observando, em disciplinas online assíncronas, se os alunos colaboram como é esperado quando escrevem juntos, utilizando plataformas wiki ou o Google Docs. Em pesquisa conduzida por mim, durante dois semestres, solicitei a duas turmas de alunos de um curso de letras, divididos em pequenos grupos, que escrevessem textos usando tecnologia wiki ou Google Docs. Para identificar os padrões de comportamento no ambiente digital, solicitei que os participantes usassem cores diferentes, de modo que eu pudesse ter uma imagem colorida da colaboração.
Acompanhei todo o processo de criação dos textos e verifiquei que a maioria dos grupos dividia as partes entre si e não se preocupava em ler o que o outro havia escrito. Eles não editavam, não corrigiam, nem acrescentavam conteúdo ou mesmo contribuíam com a formatação do texto. Houve uma aluna que sequer leu as outras partes, tendo enviado a sua por e-mail para outra colega postar. Ao repetir a experiência no semestre seguinte, antes da escrita em grupo, discuti com os alunos um texto sobre colaboração na aprendizagem. Mesmo assim, o padrão mais comum consistiu em uma sequência de trechos coloridos justapostos. No entanto, nas duas turmas, houve pelo menos um grupo que se aproximou do que eu esperava, produzindo um texto mesclado por várias cores.
Os resultados comprovam que a maioria dos alunos não está acostumada a trabalhos verdadeiramente colaborativos. Como afirmam os autores Terry Judd, Gregor Kennedy e Simon Cropper, “embora wikis incluam recursos que são projetados para facilitar a colaboração, isso não implica necessariamente que a sua utilização irá garantir ou mesmo encorajar um comportamento de aprendizagem colaborativa”. Apesar de ter promovido reflexão sobre colaboração, não consegui os resultados esperados com a segunda turma. Não é fácil mudar um hábito consolidado ao longo de uma vida escolar. Mas não desisti de usar esse tipo de ferramenta. Das próximas vezes, penso em investir no feedback ao longo do processo, e insistir com os alunos para mudarem o padrão tradicional de trabalho em grupo.
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva é professora titular na Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do CNPq.