Por João Alexandre Peschanski
A experiência em sala de aula nos moldes tradicionais precisa ser modificada. Docentes e discentes estão muitas vezes desinteressados, convivendo em um espaço que não os estimula a agir com criatividade. As causas para esse tédio são diversas. Entre as principais, o baixo investimento na educação e o sucateamento da carreira dos professores.
Nesse cenário, vou colocar o foco em apenas um elemento: a tecnologia. Os estudantes estão energicamente conectados a seus aparelhos tecnológicos. Mesmo na sala de aula os olhares estão fixos em celulares e tablets, mergulhados em fluxos de comunicação intensos. A disposição desses jovens com seus dispositivos em geral contrasta com a apatia com que encaram a prática pedagógica.
Há duas principais alternativas nessa situação. Primeiramente, pode-se banir o uso da tecnologia em sala de aula. O frenesi tecnológico impossibilita o aprendizado, pois distrai e estimula a preguiça. Em especial, há pedagogos que defendem o banimento em sala de aula e o desestímulo à utilização em trabalhos da Wikipédia, a enciclopédia multilíngue, redigida de maneira colaborativa por centenas de milhares de pessoas em todo o mundo.
O problema com a postura do banimento e da aversão às novas tecnologias é que a integração dos equipamentos digitais com a experiência pedagógica não é uma eventualidade, mas a realidade. O banimento é virtualmente insustentável, na medida em que: (1) levaria a tamanha desconexão entre a experiência pedagógica e a altamente tecnológica realidade que o momento do aprendizado se torna indesejável, inviável e inatingível; e (2) pressupõe que o formato da experiência pedagógica sem a integração com as novas tecnologias era universalmente boa, o que não se sustenta. A educação está em crise e as novas tecnologias podem contribuir para uma solução.
O desafio que se coloca aos educadores é: como aproveitar as tecnologias digitais para potencializar o aprendizado. Por um lado, isso é facilitado porque tais tecnologias atraem os estudantes, que lhes dedicam tempo e energia. Por outro, as práticas comuns de crianças e jovens com tais equipamentos e programas eletrônicos são apenas de entretenimento. O educador precisa assumir uma posição de guia no aproveitamento qualificado das novas tecnologias, que já despertam naturalmente o interesse das novas gerações.
As tecnologias wiki, em especial a Wikipédia, têm características que as tornam particularmente compatíveis com um aprendizado dinâmico e motivador. As tecnologias wiki fazem parte de um conjunto de ferramentas eletrônicas novas, conhecido como “serviços web 2.0”, em que a internet é utilizada como plataforma de interação e participação dos usuários. O caráter colaborativo dessas tecnologias potencializa a apropriação compartilhada do conhecimento e, mais do que isso, estabelece fundamentos para uma construção participativa desse conhecimento e seus fluxos.
As wikis também garantem a possibilidade de desenvolver variadas estratégias de aprendizado, em que os papeis entre especialistas e estudantes, educadores e educandos, transmutam-se de forma dinâmica. Do ponto de vista técnico, as wikis são uma forma fácil e mais construtiva de corresponder aos anseios de estudantes, que entendem sua formação acadêmica também como uma possibilidade de experimentação tecnológica. E, mais do que isso, a relação com o material que se busca apreender torna-se mais simples e fácil — e divertida — tanto para o professor quanto para o estudante.
As possibilidades de atividades tecnológicas baseadas em atividades wiki são variadas. Uma referência é o recém-lançado Wikimedia na sala de aula: como usar a Wikipédia e outros projetos Wikimedia como ferramenta pedagógica, com organização de Célio Costa Filho. Esse recurso apresenta em detalhes atividades com as tecnologias wiki, com foco no ensino fundamental II, no ensino médio e no ensino superior. As atividades trazem estrutura necessária, duração, proposta e objetivos pedagógicos, método de avaliação, contribuições para os projetos Wikimedia, problemas esperados e suas devidas soluções, além de um passo a passo de como realizar a atividade. O Wikisource, um repositório de textos com reconhecimento histórico-cultural, pode ser usado em aulas de vocabulário, com crianças de até 14 anos, ou é possível gravar em audio artigos destacados da Wikipédia.
Em atividades mais avançadas, é possível melhorar substancialmente verbetes na Wikipédia, inserir imagens no Wikimedia Commons (o repositório de imagens, que entre outras habilidades exige uma compreensão de questões relativas a direitos autorais, que podem ser passadas em sala de aula), fazer a correção de termos no Wikcionário (o dicionário wiki), fazer o cruzamento de informações no guia de viagens colaborativo Wikivoyage e a inclusão das citações favoritas do livro sendo trabalhado na escola no Wikiquote, que reúne trechos de obras e autores relevantes.
Tudo isso vai ser detalhado, nos próximos meses, nesta coluna. Vamos contar como aproveitar as tecnologias wiki em sala de aula e por que vale a pena fazê-lo. Nos acompanhe e envie seus questionamentos perlos comentários.
João Alexandre Peschanski é professor de Ciência Política na Faculdade Cásper Líbero e um entusiasta do aproveitamento das novas tecnologias em sala de aula, especialmente as wiki.