Para muitos, esta pergunta pode soar polêmica ou pretensiosa. Quantificar processos subjetivos não é trivial, nem mesmo possível em alguns casos. Entretanto, o valor agregado de iniciativas baseadas em plataformas tecnológicas não precisa necessariamente responder perguntas abrangentes como a que nomeia este artigo. Porém, pode e deve responder perguntas específicas que, quando corretamente contextualizadas, são bastante reveladoras.
Para ilustrar este conceito, considere a seguinte situação: uma instituição de ensino oferece material didático digitalmente aos seus alunos, acessível por meio de computadores, smartphones e tablets. O aluno, ao utilizar um aplicativo da instituição, informa seu código de matrícula e senha. Automaticamente, os conteúdos correspondentes ao seu curso são carregados e ele tem opção de navegar por um livro, por exemplo. A partir daí, qualquer interação desse aluno representa um evento rastreável. Ou seja, páginas que o aluno acessa, quanto tempo permanece em cada uma, quais termos pesquisa, se faz alguma anotação são informações que ficam gravadas no seu histórico.
Consideremos para este exemplo que o conteúdo oferecido tenha sido previamente classificado em função de uma matriz de habilidades e competências e que cada página do livro tenha referências à habilidade que aquele conteúdo visa desenvolver, conciliando esta possibilidade com a rastreabilidade dos eventos. Se o aluno passa por uma determinada página em 30 segundos, quando deveria permanecer 5 minutos para ter condições de assimilar as informações apresentadas, já é possível inferir a resposta para uma questão específica como: “O aluno terá condição de dominar o repertório apresentado naquela página e, consequentemente, desenvolver a habilidade à qual aquele conteúdo está associado?”. A resposta provável é “não”.
Caso, na mesma plataforma, o aluno execute um exercício que cobra as informações daquela página e assinale a alternativa errada, é possível retroalimentar sua experiência com um alerta do tipo “Você não investiu o tempo necessário na página x do livro y, onde os conceitos desta questão são apresentados. Por favor, leia novamente com mais atenção”. Vale ressaltar que esse alerta poderia ser disparado diretamente ao aluno ou para o professor, como ferramenta de apoio à gestão de atividades.
Agora, imagine a situação oposta: vários alunos despendendo mais tempo que o esperado para assistir a certo trecho de uma videoaula. Isso pode significar que aquele trecho esteja demasiadamente complicado, ou que algum pré-requisito não foi atendido. Em ambos os casos, o professor poderia ser notificado para poder intervir. Adicionalmente, o evento poderia sinalizar à própria instituição que reformule o material, aprimorando-o.
Outro exemplo: suponha que, com base em métricas bem definidas (mas flexíveis), a instituição educacional identifique que os alunos que participam das atividades não compulsórias tendem a obter melhores resultados e que, em determinado ano, a participação média tem sido abaixo da média histórica. Essa informação pode permitir à instituição e aos professores decidir o melhor momento de promover alguma ação para aprimorar a participação, com consequente melhoria na aprendizagem, conforme as métricas estabelecidas.
Todos os cenários acima ilustram que, quando existe clareza em torno do objetivo pedagógico, nesses casos respaldados pela matriz de habilidades e competências, a tecnologia pode apresentar mecanismos objetivos, com resultados mensuráveis, para alavancar a aprendizagem.
Youssef Mourad é CEO da Digital Pages, empresa de soluções tecnológicas para a oferta de conteúdos digitais em múltiplos dispositivos.