Por Marcia Padilha e Adriana Martinelli
Muitas vezes, em conversas sobre educação e tecnologias, pessoas nos perguntam: educação a distância funciona? Sim e não. Essa é a resposta na qual mais acreditamos.
O senso comum logo coloca a educação on-line, ou EAD, como é conhecida, como uma possibilidade atrativa de redução de custos e aumento de atendimento (“escala”). E isso é realmente uma grande verdade. Aspectos como infraestrutura de salas, auditórios, quantidade de formadores por alunos, logística de pessoas e alimentação para organização de uma formação presencial não aparecem em uma planilha orçamentária de um projeto de EAD.
No entanto, a visão da escala e baixo custo tem sido responsável por formações cada vez mais padronizadas, massificadas, com conteúdos “enlatados digitalmente” e sem foco na aprendizagem do aluno. O resultado: altos índices de evasão nos cursos e má reputação da modalidade.
Em um contexto em que é cada vez mais importante a formação/aprendizagem em todo o tempo e em todo o lugar, é preciso lançar um olhar mais apurado sobre a EAD, de modo a aproveitar seu potencial inesgotável.
Por isso, aqui vão algumas dicas para que escolas, secretarias de educação e sistemas de ensino comecem a pensar a EAD como um aliado para inovar, reunindo qualidade, adesão e redução de custos.
1. Foco no usuário
Considere os gadgets mais comuns entre seus alunos; conheça a vida virtual deles e se adapte a esse universo; facilite o manejo de senhas e logins; seja tão amigável quanto a rede social da moda; crie simulacros ou faça testes prévios simples para visualizar com clareza se as situações de uso criadas pelo curso têm chances de boa adesão pelos alunos.
2. Desenho instrucional
a. Mobilidade: preveja o acesso a partir de qualquer dispositivo e de qualquer lugar; não determine horários de trabalho; permita que os alunos gerenciem o ritmo de suas atividades
b. Interação: promova atividades entre pessoas de locais, culturas, práticas e ideias distintas; crie cenários de interação 24h x 7 dias com docentes, tutores, mentores e entre pares; a colaboração é o centro da aprendizagem a distância; abandone o conceito de professor transmissor
c. Recursos: diversifique materiais de apoio como apresentações em slides, áudios, vídeos, infográficos, ilustrações; não reinvente a roda: uma boa curadoria de materiais já disponíveis pode ser muito rica e diversificada; os alunos podem ser autores de materiais para o curso
d. Aspectos técnicos: possibilite acesso por celular, tablets ou computador; considere a qualidade de banda à qual seu público tem acesso e os tipos de devices que possuem; a plataforma de EAD é a última coisa a ser escolhida e não a primeira, pois ela deve se adaptar ao seu curso e não o contrário; se não tem clareza do que precisa, não compre nada. Para começar, um desenho que articule bem o uso de ferramentas e ambientes pode ser suficiente e evitar desperdícios. É possível criar boas experiências de aprendizagens e comunidades muito interativas usando os ambientes virtuais mais amigáveis para seu público, como, por exemplo, a rede social da moda, recursos de armazenamento e de compartilhamento preexistentes nos sistemas de computação em nuvens, organizadores de conteúdos gratuitos etc.
Voltando à pergunta inicial: educação a distância funciona? Sim, e lindamente, quando esses aspectos são considerados e integrados.
Marcia Padilha e Adriana Martinelli são empreendedoras da MEIO, educadoras e articuladoras de inovações na educação.