Uma das maiores preocupações que observo no mercado e vejo relatada pelas instituições de ensino refere-se à evasão escolar. De fato, o tema gera muitas discussões sobre a causa do abandono das escolas da rede pública ou da rede privada. Apesar de dados divulgados recentemente pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que mostra que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reduziu significativamente a evasão escolar, passando de 19,6% dos matriculados, em 1990, para 7% em 2013, há muito o que fazer.
O desafio de manter o aluno na escola desde o ensino fundamental até o médio é grande. Um levantamento feito pela plataforma QEdu a pedido da Exame.com identificou que 1,3 milhão de crianças e adolescentes do Brasil deixaram as escolas durante o ano letivo de 2013. São muitos os fatores que influenciam o abandono da escola. A culpa não pode cair apenas sobre o aluno. Seria muito fácil.
Em primeiro lugar, a dinâmica de ensino ainda é a mesma do que há 10 ou 15 anos. Vivemos em um mundo completamente diferente, praticamente digital, onde todos têm acesso a um dispositivo com internet e, a partir daí, a redes sociais, vários aplicativos de comunicação rápida, ou seja, o acesso à informação é imediato. Com esse cenário, pergunto: por que não utilizar a tecnologia em favor do ensino?
Li recentemente que um estudante sugeriu o compartilhamento do material da escola via Facebook e a professora não tinha a menor ideia do que ele estava falando. Será que não falta treinamento ou atualização do corpo docente? Talvez acompanhar o ritmo dos alunos inserindo plataformas digitais e dispositivos para os estudos possa tornar o aprendizado mais interessante, ou mesmo as instituições investirem em novas tecnologias para fomentar o aprendizado.
Outro aspecto, que inclusive uma pesquisa de 2013 do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) mencionou, foi o questionamento dos alunos quanto à utilidade das matérias ensinadas nas escolas. Apenas 27,3% viam utilidade na disciplina de física, 28,8% na de química e 30,5% em biologia. Esses indicadores também poderiam ser melhorados com formas diferentes de abordar os assuntos e, mais uma vez, com o auxílio da tecnologia.
Aspectos sociais e econômicos podem impactar drasticamente também na formação do aluno. Associada à questão do desinteresse no aprendizado está a necessidade de arrumar um trabalho para ajudar na renda familiar. O “precisar trabalhar” por pressão familiar ou por iniciativa própria foi levantado como o segundo maior motivo de evasão pelos alunos, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2009.
O cenário econômico atual representa um forte influenciador não somente para a evasão escolar, mas também para a troca de escolas, quando falamos de instituições privadas. Com a moeda Real encurtando a cada dia, as famílias estão sendo obrigadas a rever o orçamento e trocar seus filhos de escola. De acordo com o Ministério da Educação, nos últimos cinco anos, houve um aumento de 21% no número de matrículas na rede de instituições privadas. O grande problema é que esse crescimento veio atrelado a um aumento de custos, que foi maior do que a inflação. Obviamente os custos foram repassados e o achatamento do orçamento familiar foi inevitável.
De que forma é possível blindar a evasão, principalmente neste momento que estamos vivendo? Sem dúvida que primar pela qualidade do ensino faz total diferença. Os pais procuram por valor agregado ao investimento que fazem em seus filhos.
Destaco também um aspecto importante a que muitas escolas não se atentam, mas há outras que já trabalham nessa frente: o relacionamento com o aluno.
É possível minimizar a evasão escolar monitorando o aluno durante todo o ano letivo. Entender as dificuldades que ele enfrenta, quer seja na sala de aula, quer seja no ambiente escolar ou mesmo na turma em que está inserido pode fazer a diferença no final do ano. Por que não montar uma régua de relacionamento com o aluno e colocar pessoas especializadas para contatá-los periodicamente por telefone ou por e-mail? Essa pessoa especializada personificaria a instituição, como se fosse uma referência dentro da escola para o aluno. Esse contato também poderia ser feito com os pais, a fim de entender as expectativas e até mesmo de realizar pesquisas periódicas.
Tecnologia para ajudar nesse processo já existe. Assim como nos call centers, é possível atrelar uma solução de atendimento com um CRM, por exemplo. Os dados ficam armazenados para futuro contato.
Em suma, tratar a evasão com personalização, personificação e de forma estruturada e organizada pode auxiliar as instituições de ensino na redução da evasão, a ver o seu resultado de negócio positivo ao final do ano letivo. E, ainda, a reduzir custos ou reduzir o esforço para aquisição de novos alunos e agregar valor à imagem da instituição, pois todo cliente ou aluno precisa de atenção e deseja ser atendido de forma personalizada.
Christiane Braz Heigasi Scabbia é coordenadora de Marketing da VoxAge