O professor que “dá aula” não está fazendo a coisa certa. Pelo menos, é assim na Uniamérica — instituição que adotou a metodologia Active Learning desde 2014. A instituição, que já existia em Foz do Iguaçu, em 2013 foi comprada por um grupo de 52 educadores ligados à consultoria Holper. Surgiu, então, a Associação Internacional União das Américas, mantenedora da Uniamérica, que deixou de ser privada para se tornar uma associação comunitária sem fins lucrativos. Os educadores tiveram o apoio do Instituto Península e do grupo Anima Educação, que aportaram recursos para a aquisição.
A nova instituição foi criada com três propostas: primeiro, adotar uma metodologia que colocasse o aluno como protagonista da aprendizagem; segundo, ser internacional, com ensino trilíngue; e, terceiro, promover a inclusão social. O novo modelo baseado em aprendizagem ativa começou, em 2014, com dois cursos, Farmácia e Ciências Biológicas — Licenciatura. “A ideia é a aprendizagem baseada em projetos. Para isso fizemos uma reorganização curricular e modificações no projeto pedagógico dos cursos”, conta Ryon Braga, um dos idealizadores do projeto e atualmente na presidência da instituição.
Hoje, oito cursos seguem a metodologia e a meta é, em dois anos, migrar todos os 18 cursos para o Active Learning. Na inclusão social, a proposta é ter, em seis anos, 50% dos alunos estudando de graça — atualmente, 20% são bolsistas integrais. A internacionalização também caminha: há 60 alunos de fora do país. “Como estamos numa região de fronteira, o espanhol não intimida. E o inglês é obrigatório no currículo. Queremos que no quarto semestre o aluno esteja preparado para fazer o TOEFL”, conta o professor Braga. Os alunos estrangeiros vieram de Argentina, Paraguai, Colômbia, Portugal, Espanha, Líbano, Japão, China e Moçambique, por meio de convênios com embaixadas e outros órgãos.
Na avaliação de Braga, o mais importante é a aprendizagem baseada em projeto. Os professores definem os grandes temas de pesquisa, um para cada semestre. Esses temas são referência para os alunos elaborarem seus projetos de pesquisa, sempre a partir de um problema real. Ao final do semestre o aluno apresenta o produto que resultou de suas atividades de aprendizagem — um artigo científico, um vídeo, um jogo, um sistema, entre outros.
Em maio de 2015, cerca de 430 estudantes aprendiam dessa forma nos cursos de arquitetura e urbanismo, biomedicina, ciências biológicas — licenciatura, engenharia ambiental, engenharia civil, engenharia elétrica, engenharia de produção e farmácia. As engenharias e a arquitetura estão no início, há turmas sob a nova metodologia até o terceiro semestre, apenas. Já em ciências biológicas, biomedicina e farmácia todos os matriculados aprendem pela nova prática. Todo aluno tem um orientador que o acompanha. Cerca de 30 professores estão envolvidos nesses cursos. A expectativa, diz Braga, é superar as aulas expositivas, tornando a sala de aula um ambiente de discussão e de pesquisa, que gere mais aprendizagem, através de conteúdos contextualizados e que promovem a reflexão e o pensar, não apenas a memorização e repetição. Para que a Active Learning Classroom funcione é necessário que a formação para os gestores e os professores seja permanente. Por isso, os docentes fazem o MBA em Gestão da Aprendizagem, com 430 horas, e temáticas relacionadas a metodologias ativas, aprendizagem na nova proposta pedagógica, avaliação, recursos de TI, entre outros temas.
“As mudanças impactam todas as esferas da instituição, não apenas o modelo das aulas. Mas também a forma de coordenar os cursos, de fazer a gestão das atividades acadêmicas e até o modo de registrar o desempenho acadêmico”, afirma Braga. E, nessa transformação, nem tudo são flores. O maior desafio da Uniamérica foi mudar a cultura dos professores sobre o processo de aprendizagem. Na visão do presidente, uma proposta pedagógica que pretende formar um aluno autônomo e autodidata em relação ao seu processo de formação requer que o curso ofereça a possibilidade desse protagonismo, empregando metodologias ativas, selecionando conteúdos e experiências de aprendizagem contextualizadas e relacionadas com o exercício profissional desde o início do curso. “Para isso, o professor precisa compreender que seu papel na sala de aula mudou. De expositor ele passa a orientador/preceptor do aluno”, explica Braga.
Ao final do semestre o aluno apresenta o produto que resultou de suas atividades de aprendizagem um artigo científico, um vídeo, um jogo, um sistema, entre outros
Na outra via, o aluno, acostumado a uma cultura de repetição e memorização de conteúdos, também resiste ao novo papel que se espera dele. E um esforço extra é feito para receber os estudantes dos primeiros anos, que chegam à faculdade com enorme defasagem em relação ao conhecimento esperado. “Para utilizar a plataforma online, eles precisam estar aptos, no mínimo, a fazer uma leitura com autonomia, o que muitas vezes não acontece. Aí nós fazemos uma intervenção personalizada, para trazer esses meninos para o nosso patamar de autonomia”, conta Braga. A proposta da Uniamérica ainda passa por ajustes como esses, mas já se percebe que aumentou a motivação dos alunos: estão lendo e estudando mais, desenvolvendo competências diferenciadas em relação às propostas convencionais de ensino, participando mais de discussões em sala, produzindo mais.
Todo o material de estudo está na plataforma digital da Blackboard, com acesso por computador, tablet ou celular. São textos, vídeos, desafios (atividades a serem desenvolvi- das), exercícios de fixação, resenhas, infográficos, entre outros. Os alunos estudam individualmente. Na sala de aula, debatem em grupo os resultados do que viram antes da aula. O professor é um facilitador das trocas.
Além da plataforma Blackboard, a instituição usa o software livre osTicket Support Ticket System e contrata um link dedicado da Copel (100 Mb de download e 100 Mb de update).Existem disponíveis para empréstimo diário aos alunos 25 notebooks (Lenovo), além de dez computadores na biblioteca — exclusivos para pesquisas, com processadores AMD Athlon 64 x2 com 2 Gb de memória. Existem dois laboratórios de informática, com computadores da Dell, e 11 projetores modelo Epson S8+ disponíveis por reservas. Foram investidos em equipamentos para salas de aula cerca de R$ 200 mil. Para manter o projeto, são investidos mais R$ 25 mil mensais.
Faculdade União das Américas (Uniamérica)
Instituição privada, comunitária e sem fins lucrativos
Mantenedora: Associação Internacional União das Américas (AIUA)
www.uniamerica.br
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