Por Mila Gonçalves

Mais de 1,5 milhão de alunos de escolas do campo brasileiras aprendem em classes multisseriadas. Essa realidade, que pode ser vista por muitos de forma negativa, também traz oportunidades e precisa ser olhada com mais generosidade. A alternativa torna viável a aprendizagem em áreas onde o número de estudantes não comportaria a divisão por séries em classes separadas e ainda reforça a chance da troca de experiências dentro da sala de aula. Cláudia Molinari, pesquisadora da Universidade de La Plata, uma das defensoras do multisseriamento, disse em entrevista à revista Nova Escola, em 2013, que a “interação entre alunos de diferentes níveis, antes considerada um obstáculo, transformou-se em vantagem pedagógica”.

Esse benefício mora no compartilhamento do conhecimento dentro da diversidade e no trabalho em grupo. Para isso, é preciso que os projetos propostos sejam baseados na interação entre todos. Existem propostas pedagógicas específicas para essa realidade. O exemplo educacional da Finlândia nos mostra que é possível adotar formas alternativas de aprendizagem dentro da sala de aula e obter grandes resultados. No âmbito das classes multisseriadas, existem inúmeras opções pedagógicas apropriadas que podem ajudar a melhorar o desempenho dentro desse modelo. Como a Coleção para Classes Multisseriadas em Escolas do Campo, organizada pela Fundação Telefônica Vivo, e disponível gratuitamente em seu acervo, que sugere diversas práticas pedagógicas pensadas para esse contexto, incluindo o uso de tecnologias.

O trabalho em classes multisseriadas exige o desenvolvimento de atividades que fogem do modelo convencional de ensino. Trata-se de lidar com níveis diferentes de aprendizagem em um mesmo grupo, fato que não acontece apenas em classes multisseriadas, mas que se evidencia nesse contexto. As peculiaridades, inclusive, passam a ser tratadas de forma positiva, fazendo com que os alunos troquem experiências e aprendam entre si. Assim, o estudante se torna mais ativo nos processos, diferente da forma tradicional que encontramos nas classes tradicionais.

O educador também pode aproveitar as novas metodologias e os recursos tecnológicos disponíveis para propor atividades diferenciadas e simultâneas, caminhando para a valorização da heterogeneidade na educação. Nem todos se comportam da mesma maneira e o aproveitamento da diversidade é positivo em todos os contextos de aprendizagem.

As práticas pedagógicas em classes multisseriadas, em áreas rurais ou urbanas, estão em plena evolução e ainda apresentam um grande potencial de desenvolvimento que não deve ser negligenciado. Vale ressaltar que os modelos tradicionais e urbanos podem ainda se inspirar nesta realidade presente mais fortemente no contexto da educação do campo, de modo que passemos todos juntos a olhar e potencializar maneiras inovadoras de aprender com a diversidade presente em salas de aula.

 

 

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Mila Gonçalves é gerente de projetos da Fundação Telefônica Vivo.