Telefone, internet, e face a face são as três formas mais comuns de contato entre adolescentes, na atualidade. Essas modalidades de contato foram estudadas na dissertação de mestrado “Relações sociais entre adolescentes: do face a face às redes virtuais”, realizada pela psicóloga Viviane Aires de Aguirre Mearraoui, para o departamento de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, na área de Interdisciplinaridade e Reabilitação. O estudo mostrou que, apesar de aderirem às modalidades de contato proporcionadas por ferramentas e aplicativos digitais, os jovens ainda têm grande interesse pelo contato face a face.

O trabalho foi realizado com 60 estudantes do ensino médio de escolas particulares de Campinas (SP), na faixa dos 14 aos 18 anos. De acordo com Viviane, os adolescentes preferem enviar e-mail ou mensagem de texto do que telefonar. Os dados mostram que os adolescentes usam em menor frequência e duração a forma de contato social por voz. Na maioria das vezes, o contato por voz é para informar sobre a localização e é utilizado mais vezes com esse objetivo em relação às demais formas de contato social. “Alguns adolescentes relataram não gostar dessa forma de contato e por isso procuravam evitá-la. Foi descrita pela maioria como pouco motivadora, realizada de forma esporádica, rápida e sobre temas específicos”, disse Viviane.

O contato social por meio da escrita foi apontado como preferido pelos adolescentes na hora de se comunicar. Adolescentes fazem contato por escrito com motivação, mais frequentemente, por longos períodos e com diversidade de conteúdos, em comparação ao contato por voz.

Se o problema os adolescentes têm problema de falar ao telefone, o mesmo não se pode afirmar sobre o contato face a face. Com alta frequência e duração, esse contato social foi destacado, paralelamente à escrita, como um dos mais utilizados pela população teen. “A vantagem do contato face a face, de acordo com os entrevistados, é que possibilita a visualização dos interlocutores e dá indicadores da veracidade do conteúdo exposto por eles”, ressaltou Viviane.

A pesquisa utilizou o conceito de elementos verbais, para-verbais e não verbais descritos pela linguista francesa Catherine Kerbrat-Orecchioni. A pesquisadora da Unicamp explicou que os elementos verbais têm a ver com a forma como o conteúdo é expresso. Os para-verbais referem-se às nuances da fala que acompanham esse conteúdo, como pausas, entonação e ritmo. E os elementos não verbais referem-se às expressões faciais e corporais dos interlocutores durante a comunicação, como olhar, gestos, posturas e distância física adotada durante a conversação. “O contato face a face possibilita a apreensão desses três elementos; os contatos por voz permitem a captação dos elementos verbais e dos para-verbais; e os contatos por escrito, a princípio, parecem permitir a apreensão unicamente dos materiais verbais”, esclareceu a pesquisadora.

Estar sempre conectado, fazendo diversas coisas ao mesmo tempo, se comunicando por mensagens de texto e combinando vários eventos de lazer e com diversas pessoas pode parecer muita coisa para um único indivíduo, mas esse é o perfil que talvez melhor caracterize o adolescente, de acordo com a pesquisa. “Possibilidades como rapidez e abrangência corroboram a ideia de que a internet faz parte de um grupo de tecnologias que contribuem para a formação de uma nova configuração psíquica. Sujeitos dessa configuração, os adolescentes da atualidade apresentam-se multitarefeiros, ágeis, presentes em vários espaços por meio da escrita, estão em constante processo de redefinição de fronteiras das esferas públicas e privadas e não conhecem muitos limites para os seus desejos”, concluiu Viviane. (Com Jornal da Unicamp)