Por Bruna Domingues Waitman
O primeiro complexo de escritórios completamente construído a partir de impressão 3D foi anunciado em Dubai, na semana passada. Essa não é uma novidade que impacta apenas o universo da arquitetura ou da engenharia. Mas tem muito a contribuir com o mundo da educação.
Viver uma realidade na qual é possível imprimir um prédio inteiro significa fortalecer a cultura da prototipagem, da experimentação. É verdade que planejar é importante, mas é preciso também tirar os planos do papel. Costumamos fazer isso com bastante frequência quando somos crianças. Na infância, temos menos medo de assumir riscos e de errar.
Quando uma criança imagina, por exemplo, um castelo de areia, não dedica tanto tempo à idealização e corre logo juntar areia, água, catar palitinhos e reunir os objetos com os quais vai montar sua fortaleza. Pode ser que a construção que imaginou não se sustente de primeira. Só que essa queda não é entendida como fracasso. Torna-se oportunidade para repensar, fazer de um jeito diferente e chegar a uma solução firme.
Conforme crescemos, vamos deixando de colocar a mão na massa. Na busca por uma única resposta certa para um desafio, optamos por dedicar muito mais tempo ao planejamento. Errar vai ficando cada vez menos aceitável e mais dolorido. O que quer dizer que decidimos, em muitos casos, por tirar um projeto do papel apenas quando entendemos que conseguimos chegar à sua versão final. O problema é que, trabalhando desse modo, perdemos a chance de experimentar, de descobrir falhas no percurso para podermos acertá-las. Temos medo de fracassar e trabalhar por tentativa e erro necessariamente nos coloca frente a frente com esse temor.
A escola é um dos espaços que contribui para nos afastarmos dos nossos instintos infantis de experimentar e de criar protótipos. No entanto, ferramentas como a impressora 3D podem mudar essa cultura. Se voltarmos para o caso do prédio que será impresso em Dubai, isso ficará mais claro. Muito provavelmente, os autores do projeto tiveram a oportunidade de imprimir anteriormente uma versão menor e simplificada da construção final.
No mundo do empreendedorismo, esse modelo é chamado de mínimo produto viável. Ele permite verificar hipóteses e fazer mudanças no projeto que pouparão tempo e recursos dos envolvidos. Imagine se quando estivessem criando a versão final notassem que os alicerces não foram bem calculados, por exemplo. Os acertos seriam muito mais complexos.
A escola que prepara os estudantes para viver no século 21 não é aquela que estimula que se encontre “a” resposta certa, mas sim “uma” resposta certa. O peso de buscar uma solução única e completa para responder a um desafio pode ser paralisante. Não é só em Dubai que podemos observar essa tendência. Até o próprio Google se apresenta como uma versão beta, ou seja, uma versão em desenvolvimento e a ser aprimorada. Está aí mais uma pista de que se trata de uma forma de pensar contemporânea.
Bruna Domingues Waitman é formada em administração pública e diretora do Media Education Lab (MEL), organização que aposta no poder da rede para transformar a educação de maneira criativa.