Por Mila Gonçalves
Parece elementar, mas melhorar a qualidade da educação do campo requer pensá-la a partir de seu contexto histórico e social. Isso significa reconhecer suas características e necessidades, em um primeiro momento, para depois atuar junto a elas. No quesito infraestrutura, só para citar um exemplo, o mesmo investimento destinado a uma escola urbana pode não encontrar anteparo em uma escola rural. Sua localização muitas vezes demanda soluções de acesso, como o transporte escolar para alunos e professores chegarem à escola.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgados em recente reportagem do portal G1, indicam que, entre os 48,7 milhões de estudantes brasileiros matriculados na escola, 5,8 milhões, ou 12%, se concentram nas escolas do campo. Esse número nos remete, no mínimo, a uma condição peculiar, na qual se faz premente a construção de uma educação pautada na realidade local, e não faria sentido que seu maior compromisso estivesse centrado no vestibular, por exemplo, uma preocupação ainda comum em muitas escolas urbanas.
Um ponto unânime, amparado por muitos pesquisadores, é que não se imponha um padrão urbano de educação para as regiões rurais (o que, cabe ressaltar, também não significa abster-se de buscar soluções). É o caso de observar isso e criar programas específicos, tendo em vista uma oferta de educação para o cidadão, que acima de tudo respeite a cultura local.
O multisseriamento é um dos desafios do contexto da educação do campo que requer esse olhar atento e positivo, no sentido em que pode ser visto como uma oportunidade de troca de experiências entre estudantes de diferentes idades e de valorização do papel do educador. Por isso, a Fundação Telefônica Vivo volta seus esforços para projetos como a Coleção Classes Multisseriadas em Escolas do Campo, um material preparado para apoiar a atividade de educadores que trabalham com estudantes de diferentes idades e séries. É uma forma de engrandecer a sua função de mediador, orientador e organizador de experiências, e de promover uma prática motivadora e alinhada à educação do século 21.
E, por falar em educação de um novo século, a tecnologia é mais uma aliada para produzir resultados mais significativos de aprendizagem nas escolas do campo, desde que se conte, como demonstrou o estudo “Tecnologias para a transformação da educação”, da Unesco, com o apoio direto de um professor “orquestrador”. Esse é um dos princípios do Programa Escolas Rurais Conectadas, segundo o qual o docente aprimora a sua formação sem precisar se deslocar e o estudante tem acesso a ferramentas que chegam com dificuldade à zona rural.
Uma vez reconhecidas as barreiras existentes à educação do campo, nos dediquemos a dar visibilidade não apenas a 12% dos estudantes brasileiros, mas a 5,8 milhões de crianças e adolescentes matriculados na escola. Em meio às diferenças e particularidades, promover ações de diálogo e uma articulação coordenada a partir dessas realidades para mostrar que, no contexto educacional geral, o campo não está aquém do urbano.
Mila Gonçalves é gerente de Projetos da Fundação Telefônica