O VII Seminário de Proteção à Privacidade e aos Dados Pessoais, realizado em São Paulo pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br), dia 24 de agosto, abriu espaço, pela primeira vez, para um debate específico dentro do evento sobre segurança digital de crianças e adolescentes. A questão da exacerbada exposição de informações e performances pessoais nas redes sociais; o acompanhamento da navegação, em casa e nas instituições de ensino; a mediação dos adultos no acesso e na postagem de conteúdos foram as principais inquietações dos especialistas e dos participantes do encontro.

Alexandre Barbosa, do Cetic.br, citou a pesquisa Kids Online 2014: mais de 50% dos pais (em especial das classes mais baixas) não são usuários de internet; porém, esse indicador chega a 90% entre as crianças e adolescentes, independente da classe social. “As crianças estão fazendo uso da internet cada vez mais cedo, cada vez mais intensamente e de modo cada vez mais individualizado. Todos esses fatores impactam fortemente a privacidade. Principalmente nas faixas sócio econômicas mais baixas, dado que esses pais, por não terem acesso, sequer conhecerem a internet, não têm condições de acompanhar e orientar para uma navegação segura”, alerta o especialista.

Outro problema que merece atenção, o tratamento dos dados pessoais, também fica mais grave entre crianças e adolescentes. Fábio Senne, do Cetic.br, alerta que as principais atividades digitais desse público são baseadas em modelos de negócios com compartilhamento de dados – como as redes sociais. De acordo com a pesquisa, declararam que compartilham dados pessoais crianças e jovens de 11 a 12 anos (68%), de 13 a 14 (88%) e de 15 a 17 (95%). Entre os respondentes, 25% postam indicações dos lugares onde estão (esse número chega a 40% entre os adolescentes) e mais da metade têm perfis em redes sociais totalmente públicos (esse percentual é tanto maior quanto menor for a escolaridade dos pais).

Os pais brasileiros, considerados menos preocupados com a segurança dos filhos na internet do que os pais europeus – de acordo com estudo comparativo feito pelo CGI.br –, muitas vezes até ajudam a aumentar os riscos. “Em alguns casos, ajudam a fazer a página de crianças no Facebook, mentindo na idade deles”, conta Senne.

A equação mais difícil de resolver, segundo Rodrigo Nejm, psicólogo e integrante da organização SaferNet, se refere ao equilíbrio entre segurança e liberdade. Em tempos de selfies, canais de vídeo próprios e com as dinâmicas das redes sociais, não é tarefa simples conciliar as demandas naturais da geração nativa digital com a administração de seus rastros digitais e dos limites de suas exposições. Sem falar que a convergência tecnológica – um único aparelho móvel realiza diversas funções, como comunicar, fotografar, gravar– torna a exposição ainda mais fácil.

“Na adolescência, a exposição – digital ou não – é uma função vital. Faz parte da formação do  jovem, de sua validação social, do fortalecimento de seus relacionamentos. Ele precisa expor seus pensamentos, testar os conhecimentos”, explica Nejm. Por isso, diz ele, o desafio está em regular essa exposição: o que expor? A quem? Como?

É fundamental, esclarece o psicólogo, não utilizar o discurso do medo, que coloca como opostos segurança e liberdade: “Navegar na internet é perigoso, assim como viver é perigoso. Para ter segurança, é preciso ter conhecimento, ter liberdade para adquirir o conhecimento. É preciso respeitar essa liberdade”. Ele recomenda incluir a criança e o adolescente na construção das regras de segurança. “É chamar o adolescente para discutir liberdade, não segurança. Aí, ele vem”, garante.